MIGUEL DO ROSÁRIO
Miguel do Rosário é editor do Cafezinho
Eu não acredito em Aécio Neves. Não gosto de Aécio Neves. Ele e seu grupo ajudaram a patrocinar, desde o início, o jogo sujo do golpe, que abusou desse mecanismo sórdido de prisões cautelares (usadas como forma de tortura), vazamentos seletivos, delações forjadas e todo o tipo de atropelo do processo penal.
Era de se esperar, porém, que a “máquina de lama”, um dia, se voltasse para alguns de seus criadores. Afinal, como diria Jucá, “quem não conhece os esquemas do Aécio”?
Mesmo assim, eu não quero entrar nessa onda.
Não concordo com a delação premiada. Para mim, é uma excrescência do direito. É uma excrescência já em sua pátria de origem, os EUA. Lá, porém, a arquitetura institucional que controla da delação premiada é bem diferente. No Brasil, virou uma bagunça.
Com os executivos da Odebrecht, o jogo foi brutal e sórdido demais para que mereça, de minha parte, qualquer contemplação.
Deturpando ainda mais o instituto de delação, o Ministério Público usou uma brecha na lei para aplicar penas de prisão sem recurso ao judiciário. A Odebrecht foi entregue ao controle do governo americano, que agora terá um funcionário seu dentro daquela que já foi a maior empresa de engenharia da América Latina.
Possivelmente nem a inquisição chegou tão longe.
Tudo em troca de delações que interessavam à construção narrativa da Lava Jato, uma operação de grande envergadura que ultrapassou as fronteiras do Brasil e já começou a desestabilizar vários países da América Latina.
Por coerência, eu publico abaixo a defesa do senador Aécio Neves. Não por acreditar nele, mas por não confiar nos métodos usados pela Lava Jato, cujos resultados estamos vendo aí no Brasil: o desmantelamento total do Estado brasileiro.
Cada dia que passa, o Brasil perde mais dinheiro – com juros, entrega de patrimônio público, desemprego, atraso em obras de infra-estrutura, suspensão de políticas de crédito – do que os desvios apurados pela Lava Jato, na soma de todos esses anos.
A capa da Veja desta última semana é mais uma óbvia e previsível operação de Relações Públicas da Lava Jato.
O núcleo da direita brasileira hoje não está no PSDB, e sim na Lava Jato. Há manifestações em prol da Lava Jato e não em prol do PSDB.
Em Davos, o procurador-geral da república, encheu a boca para afirmar que “a Lava Jato é pró-mercado”. Foi uma maneira pouco sutil de assegurar que a Lava Jato é mais realista que o rei. É mais tucana que o PSDB.
Essa é a explicação para aqueles que dizem “não entender” qual o jogo da Veja ao mirar em Aécio Neves. A Veja continua a mesma de sempre. Ela permanece fiel ao núcleo do poder tucano, que está na Lava Jato, não no PSDB.
O PSDB carrega o estigma do financiamento eleitoral, dos acertos com empresários, da política, enfim. A Lava Jato, não.
A Lava Jato não precisa se humilhar diante de nenhum empresário para financiar campanhas eleitorais, nem convencer nenhum eleitor de que ela será útil e positiva à economia.
A Lava Jato tem acesso aos recursos quase ilimitados do Tesouro e seu poder passa ao largo do eleitorado.
A Lava Jato tem dinheiro, mídia, salário garantido para seus operadores, passagens e estadias pagas pelo Estado, para viajar para qualquer lugar do mundo.
O espírito autoritário se identifica muito mais com o consórcio formado por judiciário e da mídia, do que com as vicissitudes mais ou menos sujas, porém democráticas, dos políticos tucanos.
Ao fazer “concessões” à Lava Jato e à Veja apenas porque ela avança contra políticos tucanos, a esquerda morde a isca, lançada pela Lava Jato, para levar adiante seus arbítrios.
Se a Justiça quisesse investigar Aécio, não precisava de nenhuma “delação premiada”. Há inúmeras denúncias e delatores não-premiados contra Aécio Neves. A lista de Furnas está aí, cheia de documentos, que deveriam ser melhor investigados.
Sobre conta no exterior, não faz sentido divulgar uma delação sem antes confirmar a sua existência.
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