Janio de Freitas – Folha de S.Paulo
Tudo o que o ministro Gilmar Mendes tem defendido, na aceleração da sua atividade de político, corresponde aos interesses do grupo que tem dominado a política brasileira, liderado pelos expoentes do PMDB e seus seguidores em vários partidos. O repúdio ao recato próprio de um ministro do STF não se faria sem motivo. Qual poderia ser o de Gilmar?
Dois traços marcantes de sua personalidade explicam alguma coisa. Um, sua identificação com a direita, evidente desde que se aproximou da vida pública. Talvez bastasse dizer que teve a nada invejável função de assistente jurídico de Collor na Presidência. Mas Gilmar Mendes quis consolidar a primeira evidência com seu desempenho como advogado-geral da União no governo Fernando Henrique.
À época se disse que selecionado por Sérgio Motta entre os possíveis dispostos a fazer uma barragem contra incômodos ao governo, não há dúvida de Gilmar Mendes se saiu bem na missão. O outro traço marcante é a atração pelo poder.
São, porém, características que Gilmar poderia arrefecer, ao menos o suficiente para ter conduta adequada a juiz, a ministro do STF e a presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Não o fez. Muito ao contrário. A um só tempo crítico e colaborador de Sérgio Moro e dos procuradores da Lava Jato, foi como ansioso militante que comprometeu o STF com o apoio ao vazamento ilegal de gravações ilegais, feito pelo juiz de Curitiba. Um vazamento a que não atacou "como crime", porque servia à sua e à causa da corrente conservadora no Congresso.
Com a mesma motivação, Gilmar Mendes reteve por ano e meio a proibição de doações "eleitorais" por empresas, na tentativa de impedi-la. Para encurtar: entre outros desempenhos, tem batalhado pela admissão do caixa 2, o "por fora" nas eleições; prega a anulação dos inquéritos e processos que tiveram vazamentos; apoia a anistia aos doadores e recebedores do "por fora"; e propagandeia a volta das doações "eleitorais" de empresas. Estranhas, a militância e as posições?
E se Gilmar estiver se capitalizando para ser visto, na contabilidade política do PMDB & sócios, como potencial candidato à Presidência? O PMDB controla o jogo político, por sua dimensão e por meios escusos, mas não tem como alcançar o poder de fato: em seus numerosos quadros não há quem mostre condições de disputa real da Presidência.
Um quarto de século de eleições diretas para presidente – e o gigante PMDB só na figuração. Seus sócios, atuais ou possíveis, não passam de reboques. Um candidato confundindo-se com o Supremo e oferecendo à direita um candidato sem as botas militares de Bolsonaro, pode imaginar-se como um presente para o PMDB, DEM, PP e cia. Gilmar tem feito a alegria de Renan Calheiros, Romero Jucá, Eliseu Padilha, Michel Temer, e por aí. À toa, não é.
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