Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
O governador do Amazonas, José Melo, não é um político muito original. Depois do massacre de 56 detentos no
maior presídio do Estado, adotou a velha tática de culpar os mortos.
"Não tinha nenhum santo", disse, em entrevista à CBN. "Eram estupradores
e matadores que estavam lá dentro", acrescentou.
Ao
repetir o discurso brucutu que prolifera nas redes sociais, Melo tenta
se eximir de responsabilidade pela matança. Antes que alguém pergunte se
existem santos no governo amazonense, é preciso questionar o que as
autoridades locais fizeram para evitar o banho de sangue. Ao que tudo
indica, não fizeram nada.
O
presídio estava superlotado, com quase três detentos por vaga. Armas e
drogas circulavam livremente, e os presos usavam celulares para comandar
o crime de trás das grades.
Em
outubro, o CNJ classificou a unidade como "péssima". A inspeção
constatou que os detentos não recebiam assistência jurídica,
educacional, social ou de saúde. Tratados como animais, reagiram à
altura, como sugerem as imagens de corpos decapitados na rebelião.
Além
de evidenciar a falência do sistema carcerário, a barbárie de Manaus
lembra que a privatização não é uma solução mágica para todos os
problemas brasileiros. O palco da chacina foi terceirizado em 2014,
quando Melo assumiu o Estado.
Nesta
quarta (4), o Ministério Público de Contas pediu a rescisão do contrato
por indícios de superfaturamento. Uma das empresas sob suspeita doou R$
300 mil à campanha do governador à reeleição. Ao que parece, a desordem
nas cadeias amazonenses era um negócio lucrativo.
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