247 - Nos últimos
meses, a opinião pública brasileira foi bombardeada por uma narrativa
construída por alguns meios de comunicação. Nos governos Lula e Dilma, o
PT teria engendrado um modelo de corrupção sistêmica na Petrobras, com o
objetivo de perpetuar um 'projeto de poder'.
A expectativa dos que alimentaram
esse discurso era a repetição da Ação Penal 470, com a apresentação de
uma denúncia gigantesca pelo Ministério Público Federal, com a
identificação dos núcleos político, financeiro e operacional do chamado
'petrolão'.
Nesta terça-feira, quando o
procurador-geral Rodrigo Janot apresentar seus pedidos de inquérito,
tudo indica que uma outra história será escrita. A começar pela própria
decisão de Janot de pedir novas investigações, ao invés de já denunciar
os políticos mencionados nas delações. "Estamos no começo e quem tiver
de pagar, vai pagar", disse ele ontem. Trata-se de um sinal concreto de
que, para Janot, as provas levantadas nas delações do Paraná, não
permitem, ainda, denunciar os políticos.
Além disso, depois de meses de
bombardeio ao PT e a seu tesoureiro João Vaccari, a imprensa finalmente
noticiou, ainda que sem grande destaque, que presidentes de três
partidos foram citados nas delações premiadas: Ciro Nogueira, do PP, e
os já falecidos Sergio Guerra, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB (leia
mais aqui).
No primeiro caso, pode-se argumentar
que o PP, orbitando ao redor do PT, faria parte do suposto 'projeto de
poder'. Mas o que dizer de Eduardo Campos, que como candidato à
presidência da República, tinha seu próprio projeto de poder, e de
Sergio Guerra, ferrenho oposicionista?
Segundo a denúncia de Paulo Roberto
Costa, ex-diretor da Petrobras, Campos teria sido beneficiado pela
Odebrecht para não atrapalhar as obras da Refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco. Guerra teria sido corrompido pela Queiroz Galvão para
silenciar uma CPI sobre a Petrobras, no Congresso.
Com isso, fica claro que o esquema
das empreiteiras é ecumênico e pluripartidário no País, por mais que se
tente, no Paraná, confinar as investigações à Petrobras e a obras
executadas por essas empresas para o governo federal, como a usina de
Belo Monte.
Após a revelação da lista de Janot, a
presidente Dilma Rousseff terá, também, um benefício colateral. Como o
foco migrará do Executivo para o Legislativo, ela poderá sair, ainda que
temporariamente, da linha de tiro.
E, com tantos políticos citados,
haverá a oportunidade para se atacar a raiz de todos os escândalos, que é
o financiamento privado à política.
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