247 - Depois de ter sua imagem usada numa reportagem do jornal O Globo que (adivinhem) denegria a Petrobras (leia aqui),
a petroleira Michelle Daher Vieira respondeu à altura: publicou uma
carta aberta em que critica o entreguismo das Organizações Globo e pede
ainda a democratização da mídia.
O desabafo foi publicado em primeira mão no Tijolaço, de Fernando Brito. Confira, abaixo, a carta aberta de Michelle:
Antes de tudo, gostaria de deixar bem claro que não estou falando
em nome da Petrobras, nem em nome dos organizadores do movimento “Sou
Petrobras”, nem em nome de ninguém que aparece nas fotos da matéria.
Falo, exclusivamente, em meu nome e escrevo esta carta porque apareço em
uma das fotos que ilustram a reportagem publicada no jornal O Globo do
dia 15 de fevereiro, intitulada “Nova Rotina de Medo e Tensão”.
Fico imaginando como a dita jornalista sabe tão detalhadamente a
respeito do nosso cotidiano de trabalho para escrever com tanta
propriedade, como se tudo fosse a mais pura verdade, e afirmar com
tamanha certeza de que vivemos uma rotina de medo, assombrados por
boatos de demissões, que passamos o dia em silêncio na ponta das
cadeiras atualizando os e-mails apreensivos a cada clique, que
trabalhamos tensos com medo de receber e-mails com represálias, assim
criando uma ideia, para quem lê, a respeito de como é o clima no dia a
dia de trabalho dentro da Petrobras como se a mesma o estivesse vivendo.
Acho que tanta criatividade só pode ser baseada na própria
realidade de trabalho da Letícia, que em sua rotina passa por todas
estas experiências de terror e a utiliza para descrever a nossa como se
vivêssemos a mesma experiência. Ameaças de demissão assombram o jornal
em que ela trabalha, já tendo vários colegas sendo demitidos[1], a
rotina de e-mails com represálias e determinando que tipo de informação
deve ser publicada ou escondida devem ser rotina em seu trabalho[2],
sempre na intenção de desinformar a população e transmitir só o que
interessa, mantendo a população refém de informações mentirosas e
distorcidas.
Fico impressionada com o conteúdo da matéria e não posso deixar
de pensar como a Letícia não tem vergonha de a ter escrito e assinado.
Com tantas coisas sérias acontecendo em nosso país ela está preocupada
com o andar onde fica localizada a máquina que faz o café que nós
tomamos e com a marca do papel higiênico que usamos. Mas dá para
entender o porque disto, fica claro para quem lê o seu texto com um
mínimo de senso crítico: o conteúdo é o que menos importa, o negócio do
jornal é falar mal, é dar uma conotação negativa, denegrir a empresa na
sua jornada diária de linchamento público da Petrobras. Não é de hoje
que as Organizações Globo tem objetivo muito bem definido[3] em relação à
Petrobras: entregar um patrimônio que pertence à população brasileira à
interesses privados internacionais. É a este propósito que a Leticia
Fernandes serve quando escreve sua matéria.
Leticia, não te vejo, nem você nem O Globo, se escandalizado com
outros casos tão ou mais graves quanto o da Petrobras. O único escândalo
que me lembro ter ganho as mesma proporção histérica nas páginas deste
jornal foi o da AP 470, por que? Por que não revelam as provas
escondidas no Inquérito 2474[4] e não foi falado nisto? Por que não leio
nas páginas do jornal, onde você trabalha, sobre o escândalo do
HSBC[5]? Quem são os protegidos? Por que o silêncio sobre a dívida da
sonegação[6] da Globo que é tanto dinheiro, ou mais, do que os partidos
“receberam” da corrupção na Petrobras? Por que não é divulgado que as
investigações em torno do helicoca[7] foram paralisadas, abafadas e
arquivadas, afinal o transporte de quase 500 quilos de cocaína deveria
ser um escândalo, não? E o dinheiro usado para construção de certos
aeroportos em fazendas privadas em Minas Gerais [8]? Afinal este
dinheiro também veio dos cofres públicos e desviados do povo. Já está
tudo esclarecido sobre isto? Por que não se fala mais nada? E o caso
Alstom[9], por que as delações não valem? Por que não há um estardalhaço
em torno deste assunto uma vez que foi surrupiado dos cofres públicos
vultosas quantias em dinheiro? Por que você e seu jornal não se
escandalizam com a prescrição e impunidade dos envolvidos no caso do
Banestado[10] e a participação do famoso doleiro neste caso? Onde estão
as manchetes sobre o desgoverno no Estado do Paraná[11]? Deixo estas
perguntas como sugestão e matérias para você escrever já que anda tão
sem assunto que precisou dar destaque sobre o cafezinho e o papel
higiênico dos funcionários da Petrobras.
A você, Leticia, te escrevo para dizer que tenho muito orgulho de
trabalhar na Petrobras, que farei o que estiver ao meu alcance para que
uma empresa suja e golpista como a que você trabalha não atinja seu
objetivo. Já você não deve ter tanto orgulho de trabalhar onde trabalha,
que além de cercear o trabalho de seus jornalistas determinando “as
verdades” que devem publicar, apoiou a Ditadura no Brasil[12], cresceu e
chegou onde está graças a este apoio. Ao contrário da Petrobras, a
empresa que você se esforça para denegrir a imagem, que chegou ao seu
gigantismo graças a muito trabalho, pesquisa, desenvolvimento de
tecnologia própria e trazendo desenvolvimento para todo o Brasil.
Quanto às demissões que estão ocorrendo, é muito triste que
tantas pessoas percam seu trabalho, mas são funcionários de empresas
prestadoras de serviço e não da Petrobras. Você não pode culpar a
Petrobras por todas as mazelas do país, e nem esperar que ela sustente o
Brasil, ou você não sabe que não existe estabilidade no trabalho no
mundo dos negócios? Não sabe que todo negócio tem seu risco? Você culpa a
Petrobras por tanta gente ter aberto negócios próximos onde haveria
empreendimentos da empresa, mas a culpa disto é do mal planejamento de
quem investiu. Todo planejamento para se abrir um negócio deveria conter
os riscos envolvidos bem detalhados, sendo que o maior deles era não
ficar pronta a unidade da Petrobras, que só pode ser culpada de ter
planejado mal o seu próprio negócio, não o de terceiros. Imputar à
Petrobras o fracasso de terceiros é de uma enorme desonestidade
intelectual.
Quando fui posar para a foto, que aparece na reportagem, minha
intenção não era apenas defender os empregados da injustiça e
hostilidades que vem sofrendo sendo questionados sobre sua honestidade,
porque quem faz isto só me dá pena pela demonstração de ignorância.
Minha intenção era mostrar que a Petrobras é um patrimônio brasileiro,
maior que tudo isto que está acontecendo, que não pode ser destruída por
bandidos confessos que posam neste jornal como heróis, por juízes que
agem por vaidade e estrelismos apoiados pelo estardalhaço e holofotes
que vocês dão a eles, pelo mercado que só quer lucrar com especulação e
nunca constrói nada de concreto e por um jornal repulsivo como O Globo
que não tem compromisso com a verdade nem com o Brasil.
Por fim, digo que cada vez fica ainda mais evidente a necessidade
de uma democratização da mídia, que proporcionará acesso a uma
diversidade de informação maior à população que atualmente é refém de
uma mídia que não tem respeito com o seu leitor e manipula a notícia em
prol de seus interesses, no qual tudo que publica praticamente não é
contestado por não haver outros veículos que o possa contradizer devido à
concentração que hoje existe. Para não perder um poder deste tamanho
vocês urram contra a reforma, que se faz cada vez mais urgente, dizendo
ser censura ou contra a liberdade de imprensa, mas não é nada além de
aplicar o que já está escrito na Constituição Federal[12], sendo a
concentração de poder que algumas famílias, como a Marinho detém,
totalmente inconstitucional.
Sendo assim, deixo registrado a minha repugnância em relação à
matéria por você escrita, utilizando para ilustrá-la uma foto na qual eu
estou presente com uma intenção radicalmente oposta a que ela foi
utilizada por você
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