Cerca de oito meses separam a primeira e a segunda fotos de José
Dirceu justapostas na montagem fotográfica acima. A foto à esquerda foi
tirada durante evento do PT de que o ex-ministro participou no ano
passado; a foto à direita foi tirada por algum funcionário da
penitenciária da Papuda que a revista Veja "convenceu" a cometer uma
ilegalidade.
Estive pessoalmente com Dirceu em setembro do ano passado, em uma
reunião de amigos que ele promoveu na residência de seu irmão, no bairro
de Vila Mariana, em São Paulo, para acompanharem consigo sessão do STF
que deliberaria sobre aceitação de embargos infringentes dos réus do
julgamento do mensalão.
Logo após a Veja divulgar duas fotos recentíssimas de Dirceu em sua
edição desta semana, comentei no Facebook que fiquei assustado com a
imagem de alguém com quem estive cara a cara há míseros seis meses. O
homem da foto que a Veja acaba de divulgar nem parece a mesma pessoa.
As olheiras, a magreza acentuada, enfim, o forte abatimento de Dirceu
que essa foto recente ilustra me chocaram pela deterioração física
dele, mas não me surpreenderam. A vida na prisão é muito dura e não
precisa ninguém ter experimentado para saber disso.
O que surpreende é o sucesso da grosseira farsa midiático-penal que
vem sendo alardeada para todo o país, sobre supostas "regalias" que a
direção do presídio da Papuda estaria concedendo ao ex-ministro e a
outros petistas condenados pelo julgamento do mensalão.
Chega a ser ridículo ter que escrever este texto. Qualquer pessoa com
o mínimo de honestidade intelectual reconhece que a foto divulgada pela
Veja contradiz e sepulta a acusação sem provas da revista de que Dirceu
estaria recebendo alimentação de boa qualidade, tal como peixadas,
feijoadas e até sanduiches do McDonalds, conhecidos pelo alto teor
calórico que têm e que faz quem os consome engordar rapidamente.
Mas é óbvio que a imagem quase cadavérica de Dirceu não se deve
tão-somente a uma alimentação de má qualidade. Deve-se, também, a
sofrimentos diversos que o estão consumindo fisicamente, ainda que,
segundo relatam amigos que o têm visitado, seu espírito de luta esteja
intacto.
O mais grave nisso tudo nem é a Veja provavelmente ter subornado
algum funcionário da Papuda para obter foto de Dirceu, violando, assim,
os direitos dele e as leis penais, que protegem os detentos da
exploração de imagem. O mais grave é a farsa midiática sobre regalias
que jamais foram comprovadas ter o apoio da Vara de Execuções Penais do
DF.
A sindicância aberta pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito
Federal a fim de descobrir como foi tirada a foto de um detento de um
presídio local é importante, mas mais importante ainda será desmascarar
farsa tão grosseira que a própria Veja deixou ver ao publicar a imagem
de um Dirceu tão deteriorado fisicamente.
O fato de injunções políticas estarem fazendo com que um condenado a
regime semiaberto seja mantido em regime fechado por conta de acusação –
por supostamente ter usado telefone celular – que está sendo
investigada há dois meses sem chegar a conclusão alguma e as acusações
visivelmente falsas de que ele desfruta de "regalias", assustam.
Usar o poder de Estado para massacrar inimigos políticos é comum em
ditaduras, mas, supostamente, o Brasil vive democracia plena. O que a
mídia e a Vara de Execuções Penais do Distrito Federal estão fazendo com
Dirceu não é compatível com um país em que impera a democracia. A
tortura mental e física que ele está sofrendo faz do Brasil uma
ditadura.
Contudo, se pensarmos bem essa situação faz sentido. Após um
julgamento farsesco, a execução das penas que esse julgamento impôs não
poderia ser conduzida de forma diferente. Para um julgamento de exceção,
penas de exceção. E a democracia que se lasque. Afinal, os autores
dessas arbitrariedades não entendem a sua importância.
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