terça-feira, 18 de setembro de 2018

Medo de Haddad leva establishment a namorar Ciro

Por Helena Chagas no Blog Os Divergentes


Ciro Gomes em Manaus. Foto Leo Canabarro


Primeiro, eles tentaram produzir alguém de fora, mas de confiança, tipo Luciano Huck. Não deu certo. Chegaram a alimentar esperanças num candidato do governo Temer, que ia “consertar a economia” e ganharia a eleição, quem sabe Geraldo Alckmin ou Henrique Meirelles. Deu tudo errado. Alguns passaram a admitir Jair Bolsonaro, mas só em último caso, dada a incerteza e o peso desta candidatura. Agora, a onda do establishment órfão – que acima de tudo quer evitar a vitória do PT – é Ciro Gomes.


Esses setores, representados no PIB, nos partidos da centro-direita, no mercado e em parte da mídia, passaram a última semana apavorados diante do cenário que nunca esperaram. Afinal, imaginavam estar livres do PT há tempos. Achavam que Lula, condenado, não seria candidato, e que, se fosse, não teria tantos votos e nem o poder de transferi-los. O establishment não é mesmo muito bom de previsões quando estas envolvem o povo.

De segunda e sexta-feira, Fernando Haddad cresceu 4 pontos na pesquisa do Datafolha, e empata agora com Ciro em segundo lugar, com 13%, numa clara trajetória de ascensão. Mantidas as mesmas condições de pressão e temperatura, as previsões dos institutos de pesquisa colocam o candidato de Lula no segundo turno daqui a três domingos.

E agora? O movimento do mercado, dólar subindo e bolsas caindo segundo as oscilações de saúde do candidato do PSL, mostram que Bolsonaro é uma opção concreta para o establishment. Mas tem um custo bastante alto, e as fotos do candidato internado fazendo gesto de armas com os dedos e as declarações anti democráticas de seu vice – que quer fazer uma Constituição à la Pedro I – mostraram isso esta semana. O crescimento de Ciro, porém, abriu-lhes um caminho que, se não cogitavam antes, começa a parecer menos espinhoso.

Se o objetivo é impedir a vitória de Haddad, até Ciro – que sempre apanhou dessa turma e nada tem a ver com ela – serve. Quem diria. Já estamos ouvindo de interlocutores ligados ao PIB afirmações simpáticas ao candidato do PDT, que critica o sistema financeiro e promete taxar os ricos. O pessoal do Centrão, que o esnobou, já começa a reatar laços.

Cedo para dizer se essa operação irá em frente, se Ciro continuará crescendo – o que acontecia sobretudo às custas de votos da esquerda antes do lançamento de Haddad – viabilizando-se como uma opção no segundo turno, ou se terá estagnado com a ascensão do petista.

O certo é que se trata de mais um episódio da série “o que o desespero não faz”, uma das mais assistidas da temporada de 2018.

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