A nova estratégia de demonização de Lula passou a ser acusá-lo de culpar Marisa Letícia por seus crimes.
Na audiência com Moro, Lula afirmou que, enquanto ele havia descartado a compra do triplex no Guarujá, Marisa relutava.
“Eu não ia ficar com o apartamento, mas a dona Marisa ainda tinha dúvida se ia ficar para fazer negócio, ou não”, falou. Moro perguntou se ela decidiu não ficar. “Não discutiu comigo mais”, foi a resposta.
E daí?
E daí nada, mas já que estamos na lama, haverá sempre porcos e uma farta distribuição de lavagem.
Nordestino, nove dedos, bêbado, analfabeto, ladrão, infiel, criador de filhos bandidos, assassino de Celso Daniel…
Faltava o viúvo safado que se aproveita da falecida. Não falta mais.
Essa exploração dá bem a medida do quanto o depoimento de Lula a Moro foi frustrante para quem esperava que o juiz esmagasse o ex-presidente.
Ao longo de cinco extenuantes horas, Moro e sua patota do MPF não apresentaram nem uma mísera prova. Moro ainda fez, à margem da lei, questionamento a respeito de outros inquéritos, mentiu sobre a relação umbilical com a imprensa, abusou porque pode tudo.
Levou um sabão histórico nas considerações finais. Na GloboNews, o time de Camarotti e Catanhêde não tinha como esconder a tristeza. No Jornal Nacional, o clima era de fim de feira.
Restou a uma mídia que não se cansa de apelar para os baixos instintos a miséria de usar Marisa para atingir Lula.
A capa da Veja traz Marisa Letícia num retrato em fundo rosa, a face dela com photoshop na sobrancelha no estilo rainha diaba.
Giancarlo Civita, o herdeiro de Roberto, vai se provando à altura do pai no que este tinha de mais desprezível, uma espécie de Michel Temer dos empresários da imprensa — sem carisma, sem talento, cumpridor de serviço sujo que age na sombra.
O cordão da baixaria foi engrossado por Geraldo Alckmin, o Santo da Odebrecht. “Ter jogado a culpa na esposa falecida é algo inaceitável, inaceitável”, disse o tucano, balançando a calva.
É um golpe baixo, mesmo para os padrões dele, e ajuda a explicar por que o PSDB vive na draga nas sondagens presidenciais. É a mesma lógica oportunista que levou o partido que perdeu nas urnas em 2014 a se aliar à escória do PMDB.
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, uma das estrelas do elenco da força tarefa que estava presente ao interrogatório de Lula, também resolveu se aproveitar da onda.
“No geral, eu não vi nenhuma consistência nas alegações. Infelizmente, as afirmações em relação à Dona Marisa a responsabilizando por tudo é um tanto triste de se ver feitas nesse momento até porque, como o ex-presidente disse, ela não está aí para se defender”, disse.
Ora, o sujeito investiga Lula há três anos, não apresenta uma evidência de que o apartamento pertença ao réu — e, instigado pelo Estadão, se defende de sua inépcia atacando Lula com um julgamento moral e uma fofoca.
Marisa não foi absolvida por Sergio Moro depois de morta, como explicou Joaquim de Carvalho no DCM. Os mesmos que a achincalharam quando de seu AVC agora simulam solidariedade e compadecimento.
Vera Magalhães, pitbull da Jovem Pan que foi casada com um assessor de Aécio Neves e que divulgou, entre piadas, vídeos da corja que invadiu a garagem de José Dirceu para linchá-lo, chegou a tirar da manga o termo “sororidade”.
Noves fora o processo kafkiano e o pântano em que estamos metidos, o que a aliança da mídia com a Lava Jato conseguiu produzir, até agora, foi a alavancagem do nome de Lula nas pesquisas para as eleições de 2018.
Ninguém normal gosta de ver uma perseguição abjeta.
Eis a única certeza que existe até agora — além da que essa canalha sempre pode piorar.
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