O
mundo político hoje está ocupadíssimo com os vazamentos do depoimento
sigiloso do empresário Marcelo Odebrecht ao minstro Hermann Benjamin no
processo de cassação da chapa Dilma-Temer no TSE. Fora de contexto, e
mais do que seletivos, os trechos vazados vêm servindo para que as
diversas facções políticas e suas torcidas organizadas espalhem as
versões que mais lhes interessam. Como havia, na audiência, gente de
todos os lados – advogados de Dilma, Temer e do PSDB, além de
procuradores – tem vazamento para todos os gostos.
O
Planalto, por exemplo, tem sido eficiente em emplacar a versão de que o
presidente da República se sai bem do episódio, já que, segundo
Odebrecht, não teria falado diretamente com ele sobre valores, que
ficaram para Eliseu Padilha e Claudio Filho no jantar do Jaburu. Mas a
atuação do atual chefe da Casa Civil e a doação em caixa 2 de 4/5 dos R$
150 milhoes dados à chapa pela empreiteira complicam a situação do
governo no TSE.
Tudo
indica que o empresário também não mencionou conversas sobre valores
com Dilma ou Lula, mas propaga-se a versão de que “Dilma sabia” dos
pagamentos à sua campanha, tratados primeiro com Antonio Palocci e com
Guido Mantega. A ex-presidente reagiu com nota dura em que nega a
afirmação que os vazadores dizem que Marcelo Odebrecht fez no depoimento
que, em tese, foi sigiloso.
O
PSDB foi o autor da ação para cassar a chapa no TSE, mas certamente
nunca imaginou que o senador Aecio Neves fosse acabar no rolo: segundo
os vazamentos mais recentes, Marcelo Odebrecht teria dito ter recebido
em 2014 pedido do então candidato tucano de R$ 15 milhões. O noticiário é
desencontrado a respeito desse pagamento, se foi no caixa 1 ou no caixa
2.
Frases
do próprio Marcelo Odebrecht vazam descontextualizadas, como a
afirmação de ter sido o “otário” da Corte, certamente um desabafo de
quem está preso há quase dois anos e vê soltos todos os interlocutores
que lhe pediram e receberam dinheiro.
A
culpa não é do depoente, que não tem outra opção a não ser falar; nem
dos jornalistas, que, pressionados pelos chefes e pela concorrência,
postam e publicam os trechos que lhes são passados. No limite, também
não é dos advogados, que em primeiro lugar precisam defender seus
clientes e sabem que os colegas adversários também estão na batalha das
informações junto à imprensa.
Mas
a maior vítima pode ser a verdade – ou a própria Justiça, que acaba
desmoralizada ao defender um sigilo que não passa de teatro. Que tal
abrir e divulgar todas as delações na íntegra?
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