Michel Temer, 11 dias depois de ir morar no Palácio da
Alvorada, com uma reforma que fez desaparecer móveis, tapetes e outros
objetos, muitos do tempo de JK, porque tinha a cor telha ou vermelha, desistiu, diz a Folha.
Volta para o Palácio do Jaburu, residência do vice-presidente.
A desculpa é que o Alvorada é “grande e longe demais”.
Longe, não é, porque não deve distar sequer 1 km do Jaburu, e isso é nada para quem só anda de carro oficial.
Quanto ao grande, tem razão, mas talvez essa “grandeza” seja
mais fruto da pequenez do ocupante, que sabe estar ali por uma
usurpação.
Nada contra se Temer não quisesse morar num palácio, mas o
Jaburu também é um. Um pouco menor, mas não pequeno. A diferença é que é
mais discreto e recolhido, como um vice deve ser.
O mais provável é que tenha sido mesmo a velha culpa, aquele
sentimento opressivo que vem a quem assassinou politicamente uma
presidente eleita e, pelo crime, apossou-se do seu cargo e de seu lugar
de moradia.
O cargo, Temer exerce sem remorso ou contenção.
Mas a casa, com aqueles imensos salões, à noite, é cheia dos
fantasmas do remorso, que Sartre simbolizou tão bem como moscas:
afasta-se-as (mesóclise é para todos), mas elas voltam, insistem,
teimam.
Eram, na peça, a Erínias gregas, as filhas da noite,
horríveis demais para serem olhadas, que perseguiam e atormentavam os
criminosos fossem para onde fossem, por mais que insistissem em se
livrar delas.
Ou, talvez, para dar uma explicação mais à altura da turma
que chegou ao poder, seja melhor recorrer a Cinderela, dos Irmãos Grimm:
está chegando a hora de voltar a ser abóbora.
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