segunda-feira, 20 de março de 2017

Louvem porras-loucas e o Haiti será aqui


Por Reinaldo Azevedo

O espetáculo grotesco, deprimente e perigoso estrelado pela Polícia Federal, que pode trazer prejuízos gigantescos ao Brasil e aos brasileiros, tem antecedentes. Não se chegou àquele descalabro do nada. Há muito está em curso a marcha da insensatez.

Quando eu começar a errar, aviso. Ou avisam os que têm a pretensão de ser meus adversários, não é? Ocorre que, até agora, assiste-se ao contrário disso. Só acerto! As provas estão nos fatos. Há bastante tempo venho chamando atenção para procedimentos impróprios de algumas autoridades encarregadas de investigar crimes (Polícia Federal e Ministério Público) ou de julgar os que são processados pelo estado — e, nesse último caso, refiro-me, é evidente, a setores do Judiciário.

Digamos com todas as letras, com todos os pingos nos is, com todas traves no tês: os porras-loucas desses três entes — PF, MPF e Judiciário — decidiram exercer o controle da política e dos políticos. E a melhor forma que encontraram de fazê-lo é criando factoides para manter a opinião pública em estado de permanente exasperação e mobilização rancorosa, que é coisa diferente de fazer uma escolha política. E contam, para isso, com a imprensa como subordinada e porta-voz.

Orgulho-me de ter escrito no dia 15 de fevereiro um post em que afirmei que há apenas três partidos no Brasil: 1) o PT e seus satélites de esquerda; 2) o PMDB-PSDB e seus satélites do Centrão e 3) o PAMPI (O Partido do Ministério Público e da Imprensa). Posso até fazer uma pequena mudança para tornar a coisa ainda mais precisa; o certo é PAMPIPO (Partido do Ministério Público, da Imprensa e da Polícia).

Alguém tem alguma dúvida disso?

A coluna deste domingo da ombudsman da Folha traz uma denúncia grave. Escreve Paula Cesarino Costa sobre o vazamento de nomes da chamada “Lista de Janot”, que deve chegar o ministro Edson Fachin apenas nesta segunda ou terça:

“Das dezenas de envolvidos na investigação, vazaram para os jornalistas os mesmos 16 nomes de políticos — cinco ministros do atual governo, os presidentes da Câmara e do Senado, cinco senadores, dois ex-presidentes e dois ex-ministros. Eles estavam nas manchetes dos telejornais, das rádios, dos portais de internet e nas páginas da Folha e dos seus concorrentes — O Estado de S. Paulo, O Globo e Valor. Por que tanta coincidência? A ombudsman apurou que a divulgação da chamada segunda lista de Janot se deu por meio do que, no mundo jornalístico, se convencionou chamar de ‘entrevista coletiva em off’. (….) Após receberem a garantia de que não seriam identificados, representantes do Ministério Público Federal se reuniram com jornalistas, em conjunto, para passar informações sobre os pedidos de inquérito, sob segredo, baseados nas delações de executivos da Odebrecht.”

Antes que prossiga, deixo claro: eu e Paula Cesarino somos, como costumo brincar, de “enfermarias diferentes”. Ela já lamentou de modo indireto que eu seja colunista da Folha. Não estou procurando pegar carona numa opinião sua ou fazer dobradinha. Estou é destacando uma informação que ela publicou e que sei correta. Afinal, já escrevi aqui que o objetivo da “Lista de Janot” é provar que todos são iguais. Ao industriar os vazamentos, os procuradores cometem um crime, que nem investigado será, e desbordam de sua função: fazem política. Prossigo.

Aécio Neves e Lula

E só nesse caso? Ah, não! Os vazadores resolveram também passar adiante o conteúdo de outras supostas delações: a Odebrecht e a Andrade Gutierrez teriam acertado o repasse de R$ 50 milhões a Aécio Neves, em 2007, depois de vencerem o leilão para a construção da hidrelétrica Santo Antônio, em Rondônia. Mas atenção: a) ninguém disse que era propina; b) os delatores não sabem se o dinheiro realmente foi pago. Entenderam?

Na coletiva que concederam na sexta-feira, os procuradores Deltan Dallagnol e Carlos Fernando evidenciaram o desprezo que têm pelo Congresso, asseguraram que os senhores parlamentares querem é acabar com a Lava Jato, e um deles, Deltan, antecipou até a data do julgamento de Lula, que será feito pelo juiz Sergio Moro. A condenação veio sugerida nas entrelinhas. Na página-trocadilho criada por sua mulher — “Eu Moro com Ele” —, o juiz agradece o apoio da população e sugere que, sem este, a história poderia ser outra.

Todas essas ações têm nome. E o nome disso é política. É o que fazem os procuradores quando dão coletivas em off; é o que faz Moro quando apela diretamente à população; é o que faz a Polícia Federal quando, com impressionante irresponsabilidade, desfaçatez, ligeireza, falta de elementos e estupidez técnica, demoniza a carne brasileira, cuja excelência é reconhecida mundo afora.

Todos querem fazer história

Há uma evidente sede de protagonismo dessas forças. Não se contentam com o seu papel institucional, que, obviamente, pode, sim, dar conta do recado, combater a corrupção, prender os corruptos. A propósito: a única força no Brasil que hoje promove a impunidade é a Lava Jato, dadas as penas ridículas que aplicam aos delatores. Notórios bandidos estão sendo, de fato, literalmente premiados. Os abusos sem contenção nem punição da Lava Jato conduzem a outros tantos.

Não senhores! O espetáculo grotesco da Polícia Federal na sexta não surgiu do nada. Sob o pretexto de combater bandidos, só pode fazer aquela patuscada quem aposta na impunidade. A mesma impunidade que protege os procuradores-vazadores. Todos esses entes, incluindo setores do Judiciário, estão convencidos de que o país não precisa de políticos e da política. Querem saber? Entreguemos o Brasil aos porras-loucas do MPF, da PF e do Judiciário, e, em dez anos, seremos um Haiti de dimensões continentais

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