Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
Discursos
não ganham guerras, mas podem motivar a tropa para o combate. A
presidente Dilma Rousseff apostou nisso ao elevar o tom contra a
oposição e se dizer alvo de uma ofensiva de "golpismo escancarado". Na
noite de terça-feira, ela fez o mais duro pronunciamento desde que subiu
a rampa do Planalto, em janeiro de 2011.
Acuada,
Dilma foi ao ataque. Acusou os adversários de tentarem forçar um
"terceiro turno" e de se esforçarem para "construir, de forma
artificial, o impedimento de um governo eleito pelo voto direto". "O que
antes era inconformismo, por terem perdido a eleição, agora
transformou-se em um claro desejo de retrocesso político, de ruptura
institucional. E isso tem nome, isso é um golpismo escancarado",
afirmou.
No
trecho mais forte, a presidente disse que seu mandato é ameaçado por
"moralistas sem moral". "Quem tem força moral, reputação ilibada e
biografia limpa suficientes para atacar a minha honra?", questionou.
Diante
de sindicalistas amigos, Dilma falou em diálogo e em "paz política",
mas pediu ajuda para a guerra. "Nenhum trabalhador pode baixar a guarda.
É preciso defender a legalidade e normalidade com toda energia",
conclamou. Foi aplaudida pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, que já
prometeu resistir de "armas na mão" se o mandato da aliada estiver em
risco.
A
ofensiva verbal da presidente tem um objetivo claro: motivar os
eleitores do PT a saírem em sua defesa. Com apenas 8% de aprovação, ela
está muito abaixo do patamar histórico do partido. Sem recuperação nas
pesquisas, não há possibilidade de trégua no Congresso.
O
novo tom de Dilma empolgou os aliados. Nesta quarta, muitos petistas
sonhavam em convencê-la a fazer um pronunciamento em cadeia de rádio e
TV. A ideia tem poucas chances de dar certo. Nas últimas vezes em que o
Planalto recorreu à ferramenta, a voz da presidente foi abafada pelo som
das panelas.
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