Luciano Nascimento - Repórter da Agência Brasil
Criada com o objetivo de ampliar o acesso da população negra,
indígena e a de baixa renda ao ensino superior, a Lei de Cotas, que
completa três anos hoje (29), garantiu mais de 111 mil vagas para
estudantes negros em cursos superiores de universidades e institutos
federais. Os dados são da Secretaria de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir), divulgados esta
semana. Até o fim de 2015, o número deve chegar a 150 mil.
A lei reserva no mínimo 50% das vagas das instituições federais de
ensino superior e técnico para estudantes de escolas públicas, devendo
ser preenchidas por candidatos autodeclarados pretos, pardos e
indígenas, levando em consideração a proporção desses grupos na
população total do estado onde fica a instituição. A legislação também
garante que, das vagas reservadas a escolas públicas, metade será
destinada a estudantes de famílias com renda igual ou inferior a 1,5
salário-mínimo.
Levantamento realizado pela Seppir mostra que, em 2013, 50.937 vagas
das instituições federais de ensino superior e técnico foram ocupadas
por estudantes negros. No ano passado, o número subiu para 60.731. A
estimativa da secretaria é que até o fim 2015, 40 mil vagas sejam
ocupadas por negros, totalizando 150 mil vagas. Os números definitivos
deste ano só serão conhecidos em 2016.
Criada para ampliar o acesso da população negra, indígena
e a de baixa renda ao ensino superior, Lei de Cotas completa três
anos Marcelo Camargo/Agência Brasil/Arquivo
Reparação
Para a ex-reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e ex–ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Nilcéa Freire, a legislação visa corrigir uma distorção histórica na sociedade brasileira que remonta à escravidão, que fez com que estes grupos ficassem praticamente relegados, quase sem acesso ao ensino superior.
Para a ex-reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e ex–ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), Nilcéa Freire, a legislação visa corrigir uma distorção histórica na sociedade brasileira que remonta à escravidão, que fez com que estes grupos ficassem praticamente relegados, quase sem acesso ao ensino superior.
“Eu diria que estamos pagando, de certa forma, a dívida com os nossos
ancestrais que padeceram na escravidão. Até hoje podemos ver resquícios
desse processo. Basta olhar, nas universidades, o conflito que houve
para implantar o sistema de cotas. E se você olha para determinadas
categorias, como as trabalhadoras domésticas, só agora, depois de tantos
anos é que elas começam a conquistar o seu status de trabalhadoras como
as demais”, disse Nilcéa em entrevista ao programa de rádio Viva Maria,
transmitido pelas Rádio Nacional da Amazônia, Rádio Nacional de
Brasília, Rádio Nacional do Rio de Janeiro e Rádio Nacional do Alto
Solimões, veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
A Uerj foi a primeira instituição de ensino superior no país a adotar
o sistema de cotas, em 2001. Na época, Nilcéa era a reitora da
instituição, onde se formou em Medicina. Ela destaca que um dos efeitos
mais positivos da legislação foi ter possibilitado que negros e negras
de escolas públicas, jovens da periferia e das favelas tenham chance de
sonhar com uma carreira. “Quando eu vejo na minha universidade de origem
a foto da formatura da primeira turma de médicos que prestou vestibular
já no regime de cotas eu fico muito feliz. É uma turma colorida que tem
a diversidade do povo brasileiro”, disse.
Ela lembra que o debate sobre a legislação gerou muita polêmica e
resistência por parte de alguns segmentos. Nilcéa comparou a resistência
ao que chamou de “lógica do ônibus cheio”.
“Depois que você entra, você não quer mais que ele pare em nenhum
ponto e essa lógica permanece na sociedade brasileira. Nós ainda temos
um caminho longo a trilhar na construção de uma sociedade mais
solidária. Porque, na verdade, trata-se de ampliar os laços de
solidariedade para que a sociedade toda possa avançar junto e não
somente parte da sociedade”, afirmou.
Críticas
Alguns críticos da política de cotas argumentavam que as ações afirmativas feriam o princípio da igualdade previsto na Constituição. A polêmica sobre as ações afirmativas levou o caso até o Supremo Tribunal Federal, que em julgamento histórico, em 2012, considerou, por unanimidade, a iniciativa constitucional.
Alguns críticos da política de cotas argumentavam que as ações afirmativas feriam o princípio da igualdade previsto na Constituição. A polêmica sobre as ações afirmativas levou o caso até o Supremo Tribunal Federal, que em julgamento histórico, em 2012, considerou, por unanimidade, a iniciativa constitucional.
Na época, o relator, ministro Ricardo Lewandowski, lembrou que em
2012 apenas 2% dos negros conquistavam um diploma universitário no
Brasil e afirmou que aqueles que hoje são discriminados têm um potencial
enorme para contribuir para uma sociedade mais avançada.
“Para possibilitar que a igualdade material entre as pessoas seja
levada a efeito, o Estado pode lançar mão, seja de políticas de cunho
universalista – que abrangem um número indeterminado de indivíduos,
mediante ações de natureza estrutural – seja de ações afirmativas, que
atingem grupos sociais determinados, de maneira pontual, atribuindo a
estes certas vantagens, por um tempo limitado, de modo a permitir-lhes a
superação de desigualdades decorrentes de situações históricas
particulares”, afirmou Lewandowski em seu voto.
Atualmente a Lei de cotas é cumprida por 128 instituições federais de ensino.
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