Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania -
Em 2004, a agenda do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso estava
carregada. Suas palestras em eventos empresariais haviam se tornado uma
sensação, segundo matéria publicada pela revista época em 23 de abril daquele ano.
Desde que, havia um ano, entrara no circuito dos “gurus
corporativos”, Fernando Henrique já fizera duas dezenas de palestras, a
maioria remunerada.
As exposições de FHC duravam de 50 minutos a 1 hora, em média. Em seguida, respondia a perguntas da plateia.
O preço para ouvir o tucano ao vivo variava de 50 000 a 75 000
dólares, mais os encargos fiscais, conforme o porte da empresa e sua
lucratividade. Como o câmbio, à época, estava em cerca de 3 reais por
dólar, as palestras do tucano rendiam de 150 a 225 mil reais.
O dinheiro tinha que ser depositado 14 dias antes da data da
palestra. A soma, então, segundo a revista, era, “de longe, o valor mais
alto obtido por um palestrante brasileiro.”
Na matéria “O Guru FHC”, Exame relatou que, “a título de comparação”,
o ex-ministro Pedro Malan cobrava 38 000 reais por palestra, o que já
era quantia “bem superior à média do mercado nacional”.
Exame ainda relatou, em sua edição de 23 de abril de 2004, que, com
FHC, o instituto de pesquisa ACNielsen conseguira “atrair pela primeira
vez a São Paulo os 15 presidentes de filiais latino-americanas, além do
CEO”
“Nossa lista começou com 120 convidados e acabaram comparecendo 180″,
afirmou à revista o empresário Germano Rocha, então presidente da
Medial Saúde, que comemorou com um café da manhã no hotel Meliá seu 40o
aniversário de fundação.
A palestra de FHC ganhou ampla repercussão, rendendo ainda para a
Medial a citação da marca na mídia. Foi nela que, segundo Exame,
“Fernando Henrique pediu ‘valentia moral’ ao governo”.
Em palestra posterior à Ambev, a empresa mantivera em sigilo o nome
do conferencista. O evento que reunira cerca de 1 000 pessoas no hotel
Casagrande, no Guarujá. Anunciado, FHC ganhou quase 5 minutos de
aplausos frenéticos.
Apesar de toda essa ovação – sempre segundo a matéria da Exame de 23
de abril de 2004 –, pesquisa feita à época com vários executivos do
mercado brasileiro conferira nota 2,9 à “eficiência gerencial” do
governo FHC, uma nota “abaixo de regular”.
A matéria da Exame foi publicada logo após FHC retornar de um
rega-bofe em um sofisticado resort na Ilha de Comandatuba que fora
retratado pela colunista da Folha de São Paulo Monica Bergamo, em matéria de 18 de abril de 2004, publicada 5 dias antes da matéria da revista da Editora Abril.
Na reportagem “Uma ilha e mil fantasias”, Bergamo relata como
começara um evento em que o tucano dava continuidade a uma coleta de
recursos para montar seu instituto que, segundo matéria autocensurada
pela revista Época pouco antes de a mídia começar a questionar doações
recebidas pelo Instituto Lula – confira aqui, aqui e aqui–, começara quando ele ainda era presidente da República.
Observação: sim, caro leitor, você leu direito o parágrafo anterior.
FHC começou a pedir dinheiro a empresários enquanto ainda era presidente
da República e, sim, a revista Época censurou a própria matéria há
alguns dias, no exato momento em a mídia começou a “acusar” Lula por
receber doações de empresas APÓS deixar o poder. Época tirou do ar
matéria que publicou no fim de 2002, pouco antes de FHC deixar o poder.
Retomemos, pois, o divertido convescote de que participaram FHC, a
mesma Camargo Correa que agora é “acusada” de doar ao Instituto Lula e
muitos outros ricaços. Com vocês, o rega-bofe de Comandatuba, sob a
batuta do anfitrião João Dória Junior.
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