Carlos Chagas
Uma
espécie de argumento defensivo foi inventado pelos governos militares
quando cobrados pelos setores radicais para adotar medidas ainda
mais drásticas do que as suas: “antes da hora não é hora, depois da
hora também não é” – repetia o marechal Castello Branco aos que exigiam
novos surtos de cassações e de atos institucionais. O resultado foram
sucessivas voltas ao arbítrio, sempre apresentadas como iniciativas
adotadas “na hora certa”. As coisas deram no que deram.
A
pergunta que mais de ouve em Brasília e fora de Brasília é sobre a
lista do Procurador Geral da República. “A lista, onde está a lista?”
ressoa pelos corredores do Congresso, do palácio do Planalto e do
próprio Supremo Tribunal Federal, sem falar das redações de jornal, das
maquininhas diabólicas das redes sociais, dos sindicatos e até das
arquibancadas onde se reúne a torcida do Flamengo.
Rodrigo
Junot tirou férias, depois viajou para os Estados Unidos, voltou e
fechou-se em seu gabinete de trabalho, sempre prometendo a lista para
os próximos dias. Chegamos à última semana de fevereiro, curiosos desde
novembro por conta da relação dos políticos envolvidos no escândalo da
Petrobras. Até agora, só especulações que ninguém confirma, a começar
pelo número dos atingidos. Serão trinta? Quarenta? Mais ainda? Entre
eles, quando denunciados e quantos objeto da abertura de inquéritos?
Apenas
o Procurador-Geral sabe, pois é o autor da lista? Ou o segredo estará
distribuído pelos procuradores auxiliares, as datilógrafas, a Polícia
Federal, a CGU, o TCU, os ministros do Supremo afetos ao processo e até
amigos do dr. Janot? A própria presidente Dilma e seus ministros, mesmo
tendo recebido humilhante negativa para uma pergunta que não poderia
ter sido feita, chegou a mobilizar seus instrumentos de investigação,
com a ABIN à frente, mas até agora nada.
O
resultado dessa dúvida parece oscilar entre o desespero dos que se
imaginam personagens da lista e a curiosidade de quantos esperam mais um
capítulo dessa novela de horror. Se existem políticos de vulto
enrolados na roubalheira, seria até um ato de caridade revelar seus
nomes, quando nada para usufruírem do direito de defesa. A verdade é
que sem a revelação do nome dos supostos beneficiários da lambança, nada
funciona por inteiro. A sombra das condenações pode confundir-se com a
sombra da impunidade, mas ambas obstruem a luz necessária a que o país
recobre condições mínimas para funcionar.
Centenas
de milhões roubados tomaram o rumo de partidos políticos e campanhas
eleitorais, além das contas pessoais de seus operadores, mas enquanto a
lista não sai aumenta a suspeição sobre as instituições. Com todo o
respeito, está o Procurador Geral na obrigação de perceber que a hora
está passando. Mesmo porque, depois de suas denúncias e pedidos de
abertura de inquérito contra os detentores de mandatos, deveremos
conhecer também ex-parlamentares, ex-governadores, ex-ministros e
políticos aos montes também envolvidos no escândalo, sem falar em
empreiteiros e altos funcionários públicos – todos objeto de julgamento.
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