segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Antes da hora, depois da hora



Carlos Chagas
Uma espécie de argumento  defensivo foi inventado pelos governos militares quando  cobrados pelos setores  radicais  para adotar medidas  ainda mais drásticas do  que as suas: “antes da hora não é hora, depois da hora também não é” – repetia o marechal  Castello Branco aos que exigiam novos surtos de cassações e de atos institucionais. O resultado foram sucessivas voltas ao arbítrio, sempre apresentadas como iniciativas adotadas “na hora certa”. As coisas deram no que deram.
A pergunta que mais de ouve em Brasília e fora de Brasília é sobre a lista do Procurador Geral da República. “A lista, onde está a lista?” ressoa pelos corredores do Congresso, do palácio do Planalto e do próprio Supremo Tribunal Federal, sem falar das redações de jornal, das maquininhas diabólicas das redes sociais, dos sindicatos e até das arquibancadas onde se reúne a torcida do Flamengo.
Rodrigo Junot tirou férias, depois viajou para os Estados Unidos, voltou e  fechou-se em seu gabinete de trabalho,  sempre prometendo  a lista para os próximos dias. Chegamos à última semana de fevereiro, curiosos  desde novembro por conta da relação dos políticos envolvidos no escândalo da Petrobras.  Até agora, só especulações que ninguém confirma, a começar pelo número dos atingidos. Serão trinta? Quarenta?  Mais ainda? Entre eles, quando denunciados e quantos objeto da abertura de inquéritos?
Apenas o Procurador-Geral sabe, pois é o autor da lista? Ou o segredo estará distribuído pelos procuradores auxiliares, as datilógrafas, a Polícia Federal, a CGU, o TCU, os ministros do Supremo afetos ao processo e até amigos do dr. Janot?  A própria presidente Dilma e seus ministros, mesmo tendo recebido humilhante negativa para uma pergunta que não poderia ter sido feita, chegou a mobilizar seus instrumentos de investigação,  com a ABIN à frente, mas até agora nada. 
O resultado dessa dúvida parece oscilar entre o desespero dos que se imaginam personagens da lista e a curiosidade de quantos esperam mais um capítulo dessa novela de horror. Se existem políticos de vulto enrolados na roubalheira, seria até  um ato de caridade revelar seus nomes, quando  nada para usufruírem do direito de defesa. A verdade é que sem a revelação do nome dos supostos beneficiários da lambança, nada funciona por inteiro.  A  sombra das condenações pode confundir-se com a sombra da impunidade, mas ambas obstruem a luz necessária a que o país recobre condições mínimas para funcionar.

Centenas de milhões roubados tomaram o rumo de partidos políticos e campanhas eleitorais, além das contas pessoais de seus operadores, mas enquanto a lista não sai aumenta a suspeição sobre as instituições. Com todo o respeito, está o Procurador Geral na obrigação de perceber que a hora está passando. Mesmo porque, depois de suas denúncias e pedidos de abertura de inquérito contra os detentores de mandatos,   deveremos conhecer também ex-parlamentares, ex-governadores, ex-ministros e políticos aos montes também envolvidos no escândalo, sem falar em empreiteiros e altos funcionários públicos – todos objeto de julgamento.

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