Em longa edição dedicada à revolta das ruas, sobre
os "sete dias que mudaram o Brasil", Veja lembra que movimentos desse
tipo podem começar pela esquerda e desaguar em outra direção; o Maio de
1968, na França, culminou com a eleição de Georges Pompidou, um
presidente conservador; o movimento pacifista americano, chamado de
"flower power", contribuiu para a eleição de Richard Nixon; depois não
adianta dizer que Veja não avisou
247 - Desta vez, a revista Veja, ao menos,
avisou. Numa edição que celebra a revolta das ruas, qualificada como "os
sete dias que mudaram o Brasil", e que poderão mudar ainda mais se o PT
for finalmente desalojado do poder, a principal publicação da família
Civita faz um alerta importante: a desordem ajuda, sobretudo, a direita.
É o que conclui a série de reportagens coordenada pelo editor Otávio Cabral, autor da polêmica biografia sobre José Dirceu:
"A história mostra que grandes espasmos populares nem sempre
prenunciam mudanças políticas da mesma coloração e envergadura. O famoso
Maio de 68 na França culminou com a eleição de um presidente
conservador, Georges Pompidou. No mesmo fim de década, o movimento
pacifista americano, "flower power" conquistou corações e mentes de
milhões, mas quem se elegeu presidente foi mesmo o direitista Richard
Nixon. O certo, porém, é que as ruas das grandes cidades brasileiras
parecem agora vacinadas contra o proselitismo, as ideologias velhas e o
populismo. Essa é a verdadeira revolução".
Na carta ao leitor, o diretor Eurípedes Alcântara celebra a chegada
do "novo" e o fato de militantes da CUT terem sido "vigorosamente
afastados" de uma manifestação no Rio de Janeiro. Afinal, o PT, segundo
Eurípedes, por estar no poder, é um dos "alvo da indignação".
A julgar pela edição, coalhada de rostos bonitos pintados de verde e
amarelo, Veja quer que a revolta continue nas ruas lutando agora pelas
bandeiras que a revista tem defendido. E se o desfecho político for
aquele preconizado na reportagem de Otávio Cabral, tanto melhor.
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