Folha de S. Paulo – Carolina Linhares
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (10) que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), seu possível adversário na eleição presidencial de 2018, é "resultado do ódio despejado pela Rede Globo na política".
"Falar em democracia é muito importante e necessário. [...] Na medida em que a gente se cala, na medida em que a gente aceita as mentiras que são contadas todo dia, eles vão ocupando espaço. Vão negando a política, os partidos, o movimento sindical, as reivindicações. Daqui a pouco a gente começa a achar normal o mundo ser assim. De repente a gente vê começar a surgir um tipo igual Bolsonaro", afirmou Lula.
"Ele não é resultado de mérito algum. Ele é resultado do ódio despejado pela Rede Globo na política desse país", completou.
Em evento organizado pelo Instituto Lula em Belo Horizonte, o ex-presidente afirmou que se voltar ao Planalto será para fazer "mais e melhor". "Acho que eu poderia ter feito mais. Eu poderia ter dado um passo a mais, sobretudo nos meios de comunicação", disse.
Lula defendeu as eleições diretas e afirmou que, após articular o impeachment, o presidente Michel Temer (PMDB) é que será derrubado. "Eles deram um golpe e agora vão dar um golpe na barba dele, a turma dele."
Em referência aos seus processos na Lava Jato, o petista disse que há provas: "já provei minha inocência, agora eles têm que provar a minha culpa".
Lula pode sofrer sua primeira condenação pelo juiz Sergio Moro nos próximos dias. Ele é acusado de ter recebido propina por meio de um tríplex em Guarujá (SP).
Em relação a outra acusação, de que a OAS teria pago pelo transporte e armazenamento do seu acervo presidencial, Lula afirmou que essa tarefa deveria ficar a cargo da União e não dos ex-presidentes.
"Eu ganhei muita coisa. Só de papel, eram 11 contêineres, de carta e bilhete. E a gente precisa arrumar condições de tomar conta. Quem deveria cuidar do acervo do presidente é a União."
"Eu tenho até pena do Paulo Okamotto [presidente do Instituto Lula] pelo tanto que a Receita Federal vai lá. A Receita num dia, Polícia Federal no outro, Ministério Público no outro. [...] A gente acha que é uma provação. Se Deus quer, vamos passar por isso, com tranquilidade e cabeça erguida", disse.
Lula afirmou ainda que "não há saída fora da política". "Hoje estamos com as instituições todas desmoralizadas. Ninguém acredita em Poder Judiciário, partido político, na Presidência, na Câmara dos Deputados... Essa negação de tudo não ajuda em nada."
DEMOCRACIA
O ex-presidente falou no lançamento da segunda etapa do Memorial da Democracia, um museu digital e multimídia criado pelo Instituto Lula sobre a luta pela democracia no país.
"Teve um tempo em que se imaginava que democracia era o direito de gritar que estava com fome. Mas a gente aprendeu que democracia é comer", disse Lula. "Quando eu entrei no palácio, parou de entrar príncipe e princesa e passou a entrar sem-terra."
Lula explicou ainda que, a princípio, a ideia era constituir o Memorial da Democracia na região central de São Paulo e que houve aprovação dos vereadores, mas o Ministério Público embargou o projeto. Por isso, o museu hoje é virtual.
O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), também estava presente e engrossou o coro pela eleição de Lula em 2018. Pimentel disse que ao viajar pelo Estado, só escuta "uma frase no coração dos mineiros: em 2018, é Lula de novo com a força do povo".
O governador afirmou ainda que Minas será o "refúgio" de Lula caso ele precise e que "sempre será recebido de braços abertos".
O ex-ministro da Comunicação e coordenador do museu, Franklin Martins, e o ex-ministro da Cultura e atual secretário da Cultura de BH, Juca Ferreira, fizeram parte da cerimônia.
Compuseram ainda a mesa do evento o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o presidente da Assembleia Legislativa de Minas, deputado estadual Adalclever Lopes (PMDB), líderes de movimentos de esquerda, reitores de universidades e secretários de Estado.
Lançado em 2015, o Memorial da Democracia continha os períodos de 1964 a 2002. Agora serão inaugurados mais dois trechos, que vão de 1930 a 1964. É possível navegar por meio da linha do tempo, além de vídeos, recortes de jornais e músicas da época.
O evento lotou os 1.700 assentos do teatro do Palácio das Artes, no centro de Belo Horizonte. Formada majoritariamente por militantes de esquerda, a plateia gritou palavras de ordem como "Fora, Temer", "Diretas Já", "Aécio na cadeia" e "Lula guerreiro do povo brasileiro".
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi aclamada pelo público ao ser mencionada entre nomes de mineiros ilustres pelos apresentadores do evento, os cantores Aline Calixto e Fábio Renegado.
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