JOSE CARLOS DE ASSIS Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB
A Lava Jato cumpriu seu papel no sistema investigativo e judicial brasileiro. Abalou profundamente os esquemas de corrupção político-empresariais. Agora já está enchendo o saco. Não digo que esgotou seu papel. Digo que peca pelo excesso. Com a cumplicidade da mídia, que parece não ter outro assunto para abordar, come-se Lava Jato de manhã, no almoço, no café da tarde e no juntar. Às vezes da sopa, quando se trata de TV Globo. As figuras da investigação ocupam diuturnamente a mídia como se fossem atores de televisão.
Os noticiários discorrem longamente sobre os esquemas supostamente descobertos na operação, terminando com o inevitável rosário de desmentidos, geralmente usando as mesmas palavras repetitivas nas mesmas circunstâncias por parte de cada um dos acusados. Em geral, os casos expostos são ininteligíveis para um espectador de televisão. Não importa. É preciso encher a quota das denúncias diárias, na suposição de que o espectador anseia por escândalos com apetite jamais satisfeito.
Não me venham dizer que se trata de informação sempre nova. Na maioria dos casos trata-se de repetição. A televisão mostra recorrentemente as mesmas imagens dos mesmos acusados, com atualização mínima da notícia. Não aguento mais ver Mônica, mulher de um marqueteiro do PT, mascando chicletes e entrando num camburão da Polícia Federal com as mãos nas costas. Já deve ter aparecido na tela da Globo umas vinte vezes. Qual é o objetivo dessa idiotice, a não ser submetê-la a uma humilhação como antecipação de pena?
O noticiário da Lava Jato cumpre o papel de encher o buraco de uma programação televisiva pobre, geralmente ignorante, que recorre frequentemente a declarações requentadas para dar uma impressão de novidade. Sobretudo, ignora a maior crise econômica e social a história do país. Para uma equipe de televisão sem imaginação isso é ótimo pois não há cobrança para mostrar a realidade, já que noticiar casos de corrupção se apresenta como a última palavra em televisão, mesmo que à custa da paciência dos telespectadores.
A situação não é diferente no noticiário internacional. O Fantástico dedicou amplo tempo no último domingo para acusar a Síria de bombardear seus próprios cidadãos com armas químicas. Em nenhum minuto colocou a ressalva de que o bombardeio pode ter sido feito por terroristas, como alega a Rússia. Sequer teve a prudência de ponderar que, para o governo sírio, ele nada ganharia e só perderia com essa ação bélica. Entretanto, na condição de fâmulos do Departamento de Estado dos EUA, a versão unilateral prevaleceu. É que, como os EUA, a Rede Globo declarou guerra à Rússia, mesmo que seja nossa aliada nos BRICS.
Voltando aos escândalos internos, não vi em nenhum momento na televisão a imagem de Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, sendo conduzido a uma unidade da Polícia Federal para prestar depoimento sobre a acusação de fraude contra a Receita Federal no valor de R$ 1,2 bilhão a que responde. Todos são iguais perante a lei, menos os banqueiros. Estes são por definição honestos pois garantem a receita da Tevê Globo e de outras emissoras, o que é essencial em temos de crise, como os que vivemos.
Para sermos justos, este é o tratamento policial correto. Afinal, Trabuco não foi condenado. É esse tratamento que deveria ser reservado aos acusados da Lava Jato, e não a prisão-espetáculo em parceria com a mídia. Esses atores midiáticos que emergiram da posição de promotores para o grande cenário nacional montado a seu favor pela mídia em algum momento deverão retornar a seu papel de probos funcionários públicos concursados, numa posição discreta que convém a sua função na República. Aí será uma grande frustração!
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