Eram amigos |
O que você deve esperar de um homem a quem você manda calar a boca?
Tudo — exceto que cale a boca.
É o que se viu, mais uma vez, no episódio que opôs Rodrigo Janot e Eugênio Aragão.
O caso está relatado no Estadão de hoje numa excelente reportagem de Luiz Maklouf.
A rigor, Janot não mandou Aragão calar a boca. Disse, num email, que colocasse a língua no palato.
Que diabo é isso? — se perguntou Aragão, segundo o relato de Maklouf.
Língua no palato?
Bem, que podia ser senão um calaboca? Tente falar com a língua no palato.
Eram velhos amigos. Poucas coisas são mais melancólicas que a ruptura de antigas amizades.
Mas esta teve um lado cômico, também. Aragão foi ao escritório de Janot pedir satisfação, ou coisa parecida.
“Você veio aqui me chamar de traíra?” — perguntou Janot, depois de submeter o ex-camarada a uma espera de quarenta minutos.
De traíra não, devolveu Aragão. “De desleal.” Se alguém
souber a diferença entre entre ser traíra e ser desleal favor me avisar,
por favor.
Aragão, conta Maklouf, soubera que vazamentos da Lava Jato tinham partido da PGR de Janot.
A conversa se incendiou quando o nome de Lula veio à baila.
Janot, sempre de acordo com o artigo de Maklouf, disse que Lula é um
“bandido como todos os outros”.
Ficou claro, aí, que Janot jamais perdoou Lula por tê-lo
classificado como “ingrato” na conversa com Dilma gravada e vazada por
Moro, numa das últimas etapas do golpe.
Ao levar a história a um jornalista do Estadão, Aragão mostrou o quanto está indignado com o comportamento de Janot.
Você tem que estar com muita raiva de alguém para fazer o
que Aragão fez. Ele não tomou nenhum cuidado para que o leitor não
soubesse qual era a fonte da bomba.
Ele queria que as pessoas soubessem que a fonte era ele. Melhor: ele queria que Janot soubesse que o vazamento partira dele.
Vazamento se paga com vazamento: eis um exemplo acabado de vendetta.
O objetivo de Aragão foi plenamente alcançado. O homem que
aparece na reportagem é um desequilibrado, um desvairado, inconsequente o
bastante para não apenas chamar Lula de bandido — mas para mandar
Aragão para a puta que o pariu.
Compostura e equilíbrio é o mínimo que se espera de um
procurador geral da República. Janot demonstrou despreparo mental para o
cargo que exerce, ainda mais num momento tão dramático.
Fora tudo isso, cometeu o pecado de julgar e condenar Lula
antes que a Justiça oficialmente se manifeste. Neste caso, faria bem em
manter a língua no palato.
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