Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
O
vice-presidente Michel Temer se irritou com um empresário que lhe
perguntou, na noite de quinta-feira, como ele deseja ser lembrado na
história. "Estadista ou oportunista?", questionou o homem.
A
pergunta é provocativa, porém pertinente. Quem entra na vida pública
deve se preocupar com o presente e o futuro –o que inclui a forma como
será citado nos livros, quando não estiver mais por aqui.
Temer
é o vice de um governo fraco, que perdeu apoio popular e sustentação
política. Também é o presidente nacional do PMDB, o maior partido do
Congresso, que flerta com a ideia de derrubar a presidente reeleita com
54,5 milhões de votos.
O
comportamento do vice será decisivo para definir o desfecho da crise.
Ele disse na quinta que "não move uma palha" para assumir a Presidência.
No entanto, suas atitudes nas últimas semanas não têm ajudado a segurar
a titular na cadeira.
Há
um mês, Temer provocou um terremoto político ao declarar que o país
precisava de "alguém" capaz de reunificá-lo. Apesar dos panos quentes,
ficou a impressão de que ele se apresentava para o papel.
Em
seguida, o vice deu passos que reforçaram essa imagem. Primeiro
renunciou à tarefa de articulador político do governo. Depois recusou
publicamente um apelo para reassumi-la, enfraquecendo ainda mais a
autoridade presidencial.
Na
última semana, ele disse na propaganda do PMDB que o Brasil "sempre vai
ser maior e mais importante do que qualquer governo". Finalmente,
compareceu a um evento organizado por uma socialite do "Fora, Dilma" e
disse que será "difícil" a presidente concluir o mandato se não
recuperar a popularidade.
A
política brasileira tem muito mais oportunistas do que estadistas. A
maioria não está preocupada com livros de história, até porque não
costuma manuseá-los. Ao ouvir a pergunta fatídica, Temer disse que se vê
no grupo minoritário. "Jamais seria oportunista, percebe?"
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