Romulo Faro, do Bahia 247 -
Eleito para governar a terceira maior capital do país aos 33 anos (em
2012), ACM Neto acendeu no Democratas (DEM) a esperança de o partido se
reerguer no cenário político brasileiro, a ponto de o presidente da
legenda, senador José Agripino (DEM-RN), lhe projetar a candidato a
presidente da República num futuro não tão distante. ACM até deixou
acesa a chama do DEM, mas frustrou a chamada 'oposição raivosa' quando,
em seu discurso de posse, deu aula de humildade ao pedir em público
ajuda ao então governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), para lhe abrir
as portas do governo federal na tentativa de tirar Salvador do estado de
abandono imposto por oito anos (dois mandatos consecutivos) pelo
ex-prefeito João Henrique de Barradas Carneiro (PSL).
E o jovem democrata conseguiu atingir seu objetivo prioritário. Com
dois anos de gestão, ele foi eleito o melhor prefeito entre 18 capitais
pesquisadas por um conceituado instituto de pesquisa. A satisfação do
povo soteropolitano é expressa em depoimentos sobre a primeira capital
do país, que vai retomando seu charme.
Voltando à articulação político partidária, ACM Neto, de fato, deu
banho de água fria na oposição conservadora, que esperava relação tensa
com o PT de Jaques Wagner e da presidente Dilma Rousseff. Os ânimos até
se acirraram a partir do final de 2013, com a proximidade das eleições
de 2014. Nada atípico num cenário em que o DEM tinha candidato a
governador do Estado (Paulo Souto) e apoiava o candidato (Aécio Neves)
de seu maior aliado, o PSDB, à presidência da República.
Passadas as eleições, das quais o PT saiu vitorioso em plano nacional
e na Bahia, ACM neto retomou (de forma muito discreta) seu projeto de
sobrevivência política e intensificou as negociações com o PDT, do
ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi. O primeiro sinal sólido de sua
possível ida para o partido de Leonel Brizola se deu há três semanas, ao
nomear a ex-vereadora Andrea Mendonça para sua Secretaria de Trabalho.
Andrea foi secretária da mesma pasta no governo de Jaques Wagner. Dois
dias depois da nomeação de Andrea, o PDT deixou a base de apoio ao novo
governador, Rui Costa (PT), na Assembleia Legislativa, e selou de vez o
casamento do partido com ACM Neto. Ele já tem apoio da legenda também na
Câmara Municipal de Salvador.
Reta final no DEM
Nos bastidores, conforme apurou 247, ACM Neto aguarda apenas a
decisão dos demais líderes do DEM de fazer ou não fusão com o PDT. José
Agripino é um dos que relutam. Mas o prefeito de Salvador, aos 34 anos,
busca sobrevivência política e está mesmo decidido a deixar o DEM,
antigo PFL que teve como líder maior seu falecido avô Antônio Carlos
Magalhães. Caso se confirme, a articulação de ACM Neto porá fim ao DEM
na Bahia. Os deputados federais e estaduais, os vereadores e os poucos
prefeitos do partido são quase unânimes em seguir o caminho que ACM
escolher trilhar.
"Meu projeto atual é muito vinculado ao projeto do prefeito, mas
vamos analisar o que é mais conveniente", diz o presidente do DEM na
Bahia e deputado federal eleito, José Carlos Aleluia, em entrevista ao
site Bahia Notícias. Embora não diga explicitamente, o líder democrata
deixa claro que a debandada será geral. "Todos os vereadores, deputados
estaduais e federais estão afinados com ACM Neto".
Líder da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), o
deputado Sandro Régis (DEM), contudo, não mediu as palavras para dizer
que seguirá ACM Neto. "Sigo Neto em qualquer partido", disse o
democrata.
Líder do DEM na Câmara Municipal de Salvador (CMS) e vice-líder do
governo na Casa, Léo Prates também não hesitou. "Entrei no partido pelas
mãos do prefeito e faço parte do grupo político dele. Caso ele mude,
farei como sempre fiz na minha vida: vou seguir meu grupo político". O
Democratas vê em ACM Neto sua chance de voltar a governar um estado. Mas
as previsões não são animadoras para o partido.
PDT à esquerda ou à direita?
Embora seja natural os políticos mudarem de partido, uma dúvida paira
sobre a articulação de ACM Neto: ele se converterá à esquerda e deixará
de ser oposição ao PT? Na prática, a posição do prefeito e de seu
possível novo partido será afinada: a de que ele não faz e não fará
oposição sistemática aos governos federal e estadual, mas 'lutará pelo
bem dos baianos'.
O PDT, que também atravessa fase de baixa com redução de suas
bancadas na Câmara (e no Senado, já enxerga em ACM Neto o mesmo que o
DEM: as chances reais de governar o quarto maior estado do Brasil e
maior da região Nordeste. O prefeito de Salvador seria liderança
regional absoluta do PDT.
Kassab e o PL em busca de lideranças regionais
A movimentação entre o PDT e ACM Neto se intensifica simultaneamente
com a articulação do Ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), de
ressuscitar o PL (Partido Liberal) e atrair parlamentares desiludidos
que ainda fazem oposição ao governo no Congresso. Nos bastidores já
circulam rumores de que ACM Neto está na mira de Kassab, ex-líder do DEM
que se tornou aliado de primeira hora do PT ao criar o PSD em 2011,
partido que fez verdadeira devassa nas legendas de oposição (inclusive
na Bahia).
Em público, ACM mantém discurso de que sua preocupação exclusiva
continua sendo a de governar Salvador e desconversa sobre sua saída do
DEM. Contudo, ainda conforme mergulho do 247 nos bastidores da política
baiana, o prefeito não tardará a tomar e anunciar sua decisão.
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