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Potenciais adversários num eventual segundo turno em 2014, que, a julgar
pelas últimas pesquisas eleitorais, ainda parece distante, a presidente
Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), se encontraram ontem
no Senado. Frente a frente, trocaram amabilidades, resgatando um
relacionamento cordial que já os unia desde os tempos em que Aécio era
governador de Minas Gerais e Dilma, ministra de Minas e Energia. Entre
os dois, nunca houve tensão – o clima, ao contrário, sempre foi de
descontração. E ontem, mais uma vez, o aperto de mãos e os olhares
demonstravam afinidades e simpatia recíproca.
Por trás, no entanto, as
circunstâncias políticas exigem outras atitudes. Dois dias atrás, ao
lançar sua agenda com 12 pontos para o Brasil, Aécio propôs uma "virada
de página" completa para o Brasil (leia mais aqui), defendendo, por exemplo, menor intervenção estatal na economia.
No entanto, a construção do discurso
de Aécio exige uma engenharia mais complexa, uma vez que o tucano não
pode bater de frente com programas sociais, como o Bolsa Família e o
Mais Médicos, que são amplamente aprovados pela população. Na sua
agenda, Aécio defendeu a vinda de médicos cubanos, mas com salários
pagos diretamente aos profissionais – e não ao governo cubano. No caso
do Bolsa Família, ela já vinha defendendo a transformação do programa em
lei, mas com a construção do que os tucanos chamam de "porta de saída".
Dilma recebeu as propostas como reconhecimento pelo sucesso dos programas sociais. “É
sempre bom ver que eles reconhecem alguma coisa”, disse ela. “Durante
um bom tempo, o Bolsa Família foi chamado de Bolsa Esmola." Na resposta,
Aécio não deixou barato e alfinetou o ex-presidente Lula. “Como
ela agora se mostra muito conectada com as redes, sugiro que entre no
YouTube e coloque lá: presidente Lula, 2002, esmola. Vai ver que foi seu
tutor quem chamou os programas Bolsa Escola e o Bolsa Alimentação, que
originaram o Bolsa Família, de esmola.”
Ao que tudo indica, a disputa entre
ambos será marcada pela ironia mineira – e sem um clima belicoso entre
adversários, como costuma ocorrer nas campanhas que têm José Serra como
protagonista. Aécio, no entanto, tem o desafio de contestar Dilma, sem
deixar de reconhecer programas aprovados pelos eleitores. Um difícil
equilíbrio.
No caso do Mais Médicos, seu modelo
de remuneração dos profissionais, na prática, inviabilizaria o programa,
uma vez que o governo cubano jamais aceitaria o pagamento direito dos
salários. Esse alerta foi feito pelo 247 (leia mais aqui) e hoje repercutido pelo jornal Valor Econômico (leia aqui).
Ou seja: em breve, com a proximidade da campanha eleitoral, serão
exigidas dos candidatos não apenas promessas, mas também as respostas
sobre como tirá-las, na prática, do papel.
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