Jair Bolsonaro, (Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil) |
Por Helena Chagas, para o Jornalistas pela Democracia
Quando um presidente da República diz ao Supremo Tribunal Federal que “acabou, porra!”, ou prega o descumprimento de “ordens absurdas” de lá emanadas e sugere que seus integrantes “se coloquem em seu devido lugar”, é o caso de se imaginar que estamos à beira de uma ruptura institucional. Somando as declarações presidenciais às notas do general Heleno e às lives dos bolsokids, concluímos que em nenhum momento ao longo dos últimos anos pós-redemocratização o fantasma do golpe esteve tão presente quanto nesta semana.
A pergunta que não quer calar em Brasília hoje é se estamos à beira de uma quebra da normalidade democrática, de uma ruptura. O que nos leva a tentar imaginar: como seria o golpe de Bolsonaro?
Com a tensa situação agravada após a operação contra fake news determinada pelo ministro Alexandre de Moraes atingindo políticos, empresários e blogueiros bolsonaristas, é de se supor que a “medida enérgica” a qual se refere seu filho 03 – e que segundo ele faria o pai ser tachado de ditador – seria tomada contra o Judiciário. Só que o governo do ex-capitão já percebeu que é preciso bem mais do que um cabo e um soldado para fechar o STF, e é difícil acreditar que ele pense que terá sucesso em algo assim.
Até porque a grande incógnita desse momento é a real posição dos militares da ativa – os únicos que, com o controle de tropas e tanques, têm condições físicas de dar um golpe. Nas últimas horas, fontes ligadas a Bolsonaro têm tentado passar a ideia de que há uma união dos militares do governo em torno da avaliação de que o STF está extrapolando – no caso das fake news, do celular presidencial, da interferência na PF… O próprio ministro da Defesa, Fernando Azevedo, andou muito perto do presidente nos últimos dias e chegou a apoiar a nota ameaçadora de Heleno no caso do celular.
Há dúvidas, porém, se uma demonstração de solidariedade a um presidente explosivo e descontrolado, um afago, e até mesmo uma crítica em relação às últimas posições do Supremo podem, por parte dos militares, se traduzir no apoio a algum tipo de golpe. São coisas muito diferentes, e tudo indica que não.
A julgar pelas seguidas manifestações públicas de Azevedo em apoio à democracia e a suas instituições, não há ali muita disposição para isso. Observadores da cena militar lembram que os comandantes da ativa vêm se sentindo até muito incomodados com os movimentos de Bolsonaro de passar a ideia de que tem o apoio das Forças Armadas para o que der e vier. Acham que vai ser difícil botar essas tropas na rua, sem maior apoio popular, e mantê-las para sustentar medidas de força que quebrem a ordem constitucional, sob a liderança do ex-capitão.
Há ainda a questão do apoio popular. Não se tem notícia de movimentos golpistas que tenham se sustentado com menos de 30% de apoio da população. Podem até ser deflagrados, mas não se sustentam.
É possível supor, portanto, que por trás da espuma das ameaças e das declarações incendiárias do presidente e de seus filhos, não se vá encontrar nem base social nem militar para desferir um golpe nas instituições e, mais complicado ainda, sustentar ao longo do tempo o estado de coisas que resultar da quebra da normalidade democrática.
É por isso que, por trás do nervosismo que parece ter tomado conta de Brasília, alguns mantém o sangue frio diante das bravatas presidenciais e apostam que as instituições da democracia vão se impor e responder: não acabou não, Bolsonaro! Aliás, o maior risco de quem tenta dar um golpe é acabar golpeado.
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