sábado, 25 de agosto de 2018

O lulismo em movimento


Mesmo preso, Lula conseguiu manter o seu nome vivo na política
André  Singer – Folha de S.Paulo

Começo por um alerta usual, neste caso imprescindível: cada pesquisa de intenção de voto é apenas a fotografia do momento. Depois, tudo pode mudar. Mas o retrato tirado pelo Datafolha no começo desta semana (dias 20 e 21 de agosto) é de uma maré montante lulista. 
Após quatro meses preso, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cresceu de 30% em junho para 39% em agosto, estabelecendo 20 pontos percentuais de vantagem sobre Jair Bolsonaro (PSL) no segundo posto. 
Quando se observa o fenômeno por renda, percebe-se que é geral: Lula cresceu em todas as faixas econômicas. Mesmo entre os mais ricos houve um acréscimo na preferência pelo ex-presidente, que passou de 14% para 20%. 
É possível que, nesse público abastado, a opção se dê apesar do conhecimento de que a sua candidatura, quase com certeza, será impugnada na Justiça.
Haveria, então, um conteúdo mais profundo, talvez de reação ao bolsonarismo, que, aliás, estagnou no ambiente próspero. Em troca, o apreço pelo militar reformado subiu de 21% para 25% no grupo cujas famílias vivem com 2 a 5 salários mínimos mensais.
 Entre os mais pobres, porém, Bolsonaro despenca. Ali, Lula obtém 49% das preferências, contra 10% do deputado federal. Nessa camada, na qual estão os usuários do Bolsa Família, o petista aproxima-se da marca que alcançou, segundo o Ibope, em 2006, o ano do realinhamento: 55%.
Com perdão pela metáfora analógica, se o fotograma de agosto for transformado no filme de uma tendência, setembro poderá mostrar a plena recomposição da potência lulista.

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