Petista não deu nenhuma resposta comprometedora, mas o fato é que não foi confrontado com o conteúdo essencial da denúncia, a exemplo do que aconteceu com o tríplex de Guarujá
Por: Reinaldo Azevedo
Esta quarta-feira assistiu a dois eventos de forte apelo midiático: o julgamento, no Supremo, do agravo regimental que pedia a suspeição de Rodrigo Janot para atuar em casos que digam respeito a Michel Temer — e o resultado de 9 a zero era mais do que esperado e não tem a importância que lhe atribuem — e o segundo depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva a Sérgio Moro, desta feita na ação penal que investiga se um terreno supostamente destinado a abrigar o Instituto Lula e se um apartamento de cobertura contíguo ao seu, em São Bernardo (que seria, na verdade, uma propriedade sua) são frutos de propina paga pela Odebrecht. O vídeo com a integra do depoimento segue abaixo. Vocês poderão fazer seu próprio juízo. Faço o meu. Mas levando em conta algumas informações. E noto de cara: Lula continua a errar feio quando trata da relação entre o Ministério Público Federal e a imprensa.
Sim, o petista estava bem mais nervoso do que no primeiro depoimento, do dia 10 de maio do ano passado, quando depôs sobre o tríplex de Guarujá. Não à-toa. Sabia que uma espada pendia sobre sua cabeça, como nunca antes na sua história pessoal e na do PT: o depoimento prestado àquele Juízo por Antonio Palocci. Pela primeira vez, o petista enfrenta pesadas acusações oriundas de alguém de seu mais restrito círculo de confiança. Tudo o que dissesse estaria sempre a ser confrontado com a fala daquele que chegou a ser um dos três homens mais importantes do PT — os outros dois eram o próprio Lula e José Dirceu, que também caiu em desgraça — sem delatar ninguém, note-se à margem.
Se alguém quer um símbolo do momento difícil que vivem Lula e o PT, basta atentar para a timidez do misto de manifestação de apoio e protesto organizado pelos petistas. Os “companheiros” falaram em mais de 4 mil pessoas. Com boa-vontade, quem acompanhou de perto, chutaria, no máximo, mil. Mas que se registre também: as manifestações contrárias ao petista beiraram o bisonho. Não mais do que meia-dúzia de gatos pingados. É que a Lava Jato não vive um momento muito melhor do que o de Lula — a rigor, está em pior situação do que o próprio petista. Mais: a degeneração irremediável pode acontecer mais cedo do que se pensa.
Feitas essas considerações, cabe a pergunta: Lula se deu mal na audiência, como sugerem ou afirmam alguns comentaristas? A resposta é esta: não! Embora tenso, não deu uma só resposta comprometedora. Ou, então, alguém me aponte a evidência em contrário. O vídeo vai acima. Convenham: o Ministério Público Federal tinha a chance de confrontar Lula com as provas — ou, ao menos, os indícios que sustentavam a denúncia. E isso não aconteceu.
E até algo curioso se deu: a procuradora Cristina Groba Vieira, que pertence ao núcleo militante do MPF integrado por Deltan Dallagnol e Carlos Fernando, quis saber por que Lula não se ocupou de reunir recibos dos alugueis pagos pelo apartamento que ocupa, anexo ao seu. E o juiz Sérgio Moro reforçou a questão. Até parecia que o petista é que estava obrigado a provar a inocência. E, até onde se sabe — e isto foi relembrado na tal sessão do STF — o ônus da prova continua com o acusador.
No mais, Cristina Vieira insistiu em apresentar e-mails trocados entre terceiros a indicar a proximidade de Lula com o apartamento e com o tal terreno que abrigaria o instituto, indagando se o petista tinha conhecimento da troca de mensagens. Mas nada que tenha remetido ao centro denúncia. Explico: segundo o MPF, oito contratos celebrados pela Odebrecht com a Petrobras estariam na raiz do pagamento de propina, traduzida na compra do terreno e do apartamento de São Bernardo. Os tais contratos foram solenemente ignorados pela representante do MPF.
Repetia-se o procedimento da ação penal sobre o apartamento de Guarujá. E é provável que o desfecho seja o mesmo: a condenação. Explico de novo: naquele caso, o MPF sustentou que a origem do imóvel eram três contratos de consórcios integrados pela OAS com a estatal. No depoimento de Lula, eles não foram nem sequer citados pelos procuradores, a exemplo do que se fez agora. Também Moro os ignorou ao condenar Lula. Nos embargos de declaração, deixou claro que ele não estabeleceu liame entre a condenação e os ditos-cujos, que só voltaram a ser lembrados no momento de arbitrar a multa.
Tudo indica que o petista sabe que será condenado também nesse caso. Por isso, desqualificou as acusações feitas por Palocci, atribuindo-as a seu “pacto de sangue” com o Ministério Público e as atribuiu ao desespero de quem pretende celebrar um acordo de delação para deixar a cadeia e usufruir de parte ao menos do dinheiro que ganhou com consultor. O petista se referiu ainda ao momento difícil por que passa a facção da Lava Jato de Brasília — e foi repreendido por Sérgio Moro por isso — e disse que tudo decorre do fato de que o MPF se tornou refém da imprensa. É o erro mais idiota cometido pelo petista. Ele não percebeu ainda que se trata precisamente do contrário: amplos setores da imprensa é que são reféns do MPF. Quando menos, dependem da rotina de vazamentos e de fofocas de coxia para alimentar o noticiário. Quem erra ao identificar os adversários tende a perder a guerra, não é mesmo?
Ah, sim: eu não estou julgando Lula neste país em que juízes não respeitam a toga e em que não-juízes fazem de seus ódios a sua toga. Se fosse o caso de dar apenas opinião, diria: ele é culpado. O ponto é outro: trato do devido processo legal. É claro que o petista será condenado por Moro e deve saber disso. E o será, mais uma vez, com base em elementos que não estão na denúncia.
Como prova o matadouro em que se transformou a PGR, isso acaba dando errado no fim. Ainda que seu fígado possa ficar satisfeito, leitor!
Por: Reinaldo Azevedo
Esta quarta-feira assistiu a dois eventos de forte apelo midiático: o julgamento, no Supremo, do agravo regimental que pedia a suspeição de Rodrigo Janot para atuar em casos que digam respeito a Michel Temer — e o resultado de 9 a zero era mais do que esperado e não tem a importância que lhe atribuem — e o segundo depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva a Sérgio Moro, desta feita na ação penal que investiga se um terreno supostamente destinado a abrigar o Instituto Lula e se um apartamento de cobertura contíguo ao seu, em São Bernardo (que seria, na verdade, uma propriedade sua) são frutos de propina paga pela Odebrecht. O vídeo com a integra do depoimento segue abaixo. Vocês poderão fazer seu próprio juízo. Faço o meu. Mas levando em conta algumas informações. E noto de cara: Lula continua a errar feio quando trata da relação entre o Ministério Público Federal e a imprensa.
Sim, o petista estava bem mais nervoso do que no primeiro depoimento, do dia 10 de maio do ano passado, quando depôs sobre o tríplex de Guarujá. Não à-toa. Sabia que uma espada pendia sobre sua cabeça, como nunca antes na sua história pessoal e na do PT: o depoimento prestado àquele Juízo por Antonio Palocci. Pela primeira vez, o petista enfrenta pesadas acusações oriundas de alguém de seu mais restrito círculo de confiança. Tudo o que dissesse estaria sempre a ser confrontado com a fala daquele que chegou a ser um dos três homens mais importantes do PT — os outros dois eram o próprio Lula e José Dirceu, que também caiu em desgraça — sem delatar ninguém, note-se à margem.
Se alguém quer um símbolo do momento difícil que vivem Lula e o PT, basta atentar para a timidez do misto de manifestação de apoio e protesto organizado pelos petistas. Os “companheiros” falaram em mais de 4 mil pessoas. Com boa-vontade, quem acompanhou de perto, chutaria, no máximo, mil. Mas que se registre também: as manifestações contrárias ao petista beiraram o bisonho. Não mais do que meia-dúzia de gatos pingados. É que a Lava Jato não vive um momento muito melhor do que o de Lula — a rigor, está em pior situação do que o próprio petista. Mais: a degeneração irremediável pode acontecer mais cedo do que se pensa.
Feitas essas considerações, cabe a pergunta: Lula se deu mal na audiência, como sugerem ou afirmam alguns comentaristas? A resposta é esta: não! Embora tenso, não deu uma só resposta comprometedora. Ou, então, alguém me aponte a evidência em contrário. O vídeo vai acima. Convenham: o Ministério Público Federal tinha a chance de confrontar Lula com as provas — ou, ao menos, os indícios que sustentavam a denúncia. E isso não aconteceu.
E até algo curioso se deu: a procuradora Cristina Groba Vieira, que pertence ao núcleo militante do MPF integrado por Deltan Dallagnol e Carlos Fernando, quis saber por que Lula não se ocupou de reunir recibos dos alugueis pagos pelo apartamento que ocupa, anexo ao seu. E o juiz Sérgio Moro reforçou a questão. Até parecia que o petista é que estava obrigado a provar a inocência. E, até onde se sabe — e isto foi relembrado na tal sessão do STF — o ônus da prova continua com o acusador.
No mais, Cristina Vieira insistiu em apresentar e-mails trocados entre terceiros a indicar a proximidade de Lula com o apartamento e com o tal terreno que abrigaria o instituto, indagando se o petista tinha conhecimento da troca de mensagens. Mas nada que tenha remetido ao centro denúncia. Explico: segundo o MPF, oito contratos celebrados pela Odebrecht com a Petrobras estariam na raiz do pagamento de propina, traduzida na compra do terreno e do apartamento de São Bernardo. Os tais contratos foram solenemente ignorados pela representante do MPF.
Repetia-se o procedimento da ação penal sobre o apartamento de Guarujá. E é provável que o desfecho seja o mesmo: a condenação. Explico de novo: naquele caso, o MPF sustentou que a origem do imóvel eram três contratos de consórcios integrados pela OAS com a estatal. No depoimento de Lula, eles não foram nem sequer citados pelos procuradores, a exemplo do que se fez agora. Também Moro os ignorou ao condenar Lula. Nos embargos de declaração, deixou claro que ele não estabeleceu liame entre a condenação e os ditos-cujos, que só voltaram a ser lembrados no momento de arbitrar a multa.
Tudo indica que o petista sabe que será condenado também nesse caso. Por isso, desqualificou as acusações feitas por Palocci, atribuindo-as a seu “pacto de sangue” com o Ministério Público e as atribuiu ao desespero de quem pretende celebrar um acordo de delação para deixar a cadeia e usufruir de parte ao menos do dinheiro que ganhou com consultor. O petista se referiu ainda ao momento difícil por que passa a facção da Lava Jato de Brasília — e foi repreendido por Sérgio Moro por isso — e disse que tudo decorre do fato de que o MPF se tornou refém da imprensa. É o erro mais idiota cometido pelo petista. Ele não percebeu ainda que se trata precisamente do contrário: amplos setores da imprensa é que são reféns do MPF. Quando menos, dependem da rotina de vazamentos e de fofocas de coxia para alimentar o noticiário. Quem erra ao identificar os adversários tende a perder a guerra, não é mesmo?
Ah, sim: eu não estou julgando Lula neste país em que juízes não respeitam a toga e em que não-juízes fazem de seus ódios a sua toga. Se fosse o caso de dar apenas opinião, diria: ele é culpado. O ponto é outro: trato do devido processo legal. É claro que o petista será condenado por Moro e deve saber disso. E o será, mais uma vez, com base em elementos que não estão na denúncia.
Como prova o matadouro em que se transformou a PGR, isso acaba dando errado no fim. Ainda que seu fígado possa ficar satisfeito, leitor!
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