Complexo arquitetônico da Cidade Administrativa de Minas Gerais, construída durante a gestão Aécio
Folha de S.Paulo – Bela Megale, Marina Dias e Mario Cesar Carvalho
Ex-presidente
da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Júnior afirmou em sua delação
premiada à Lava Jato que se reuniu com Aécio Neves (PSDB-MG) para tratar
de um esquema de fraude em licitação na obra da Cidade Administrativa
para favorecer grandes empreiteiras.
A reunião, segundo o delator, ocorreu quando o tucano governava Minas.
Segundo a Folha apurou,
Benedicto Júnior, conhecido como BJ, disse aos procuradores que, após o
acerto, Aécio orientou as construtoras a procurarem Oswaldo Borges da
Costa Filho. De acordo com o depoimento, com Oswaldinho, como é
conhecido, foi definido o percentual de propina que seria repassado
pelas empresas no esquema.
Ainda de acordo com o delator, esses valores ficaram entre 2,5% e 3% sobre o total dos contratos.
Em
nota, Aécio repudiou o teor do relato de Benedicto Júnior e defendeu o
fim do sigilo sobre as delações "para que todo conteúdo seja de
conhecimento público".
Oswaldinho
é um colaborador das campanhas do hoje senador mineiro. De acordo com
informações obtidas pela reportagem, o ex-executivo da Odebrecht afirmou que o próprio Aécio decidiu quais empresas participariam da licitação para a obra.
Projetada
pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), a Cidade Administrativa,
sede do governo mineiro, custou R$ 2,1 bilhões em valores da época. Foi
inaugurada em 2010, último ano de Aécio como governador, sendo a obra
mais cara do tucano no governo de Minas.
Niemeyer
não queria empresas pequenas na obra porque considerava o projeto
extremamente complexo e temia que empresas pequenas não conseguissem
executá-lo.
Com
Oswaldinho, que foi presidente da Codemig (Companhia de Desenvolvimento
Econômico de Minas Gerais), as empresas negociariam, ainda de acordo
com Benedicto Júnior, como seriam feitos os pagamentos.
As
informações fornecidas por BJ em sua delação premiada foram confirmadas
e complementadas, segundo pessoas com acesso às investigações, pelos
depoimentos do ex-diretor da Odebrecht em Minas Sergio Neves.
Sergio
Neves aparece nas investigações como responsável por operacionalizar os
repasses a Oswaldinho e é ele quem detalha, na delação, os pagamentos a
Aécio.
Líder do consórcio, que contou com Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão, a Odebrecht era responsável por 60% da obra e construiu um dos três prédios que integram a Cidade Administrativa, o Edifício Gerais.
Benedicto
Júnior e Sérgio Neves estão entre os 77 funcionários da Odebrecht que
assinaram acordo de colaboração com a Lava Jato. As delações foram
homologadas pela presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Carmén
Lúcia, e enviadas à Procuradoria-Geral da República, sob sigilo.
RECALL DA ANDRADE
A Folha apurou
que, em razão das confissões de BJ e Sergio Neves, procuradores da Lava
Jato exigiram dos advogados da Andrade Gutierrez, no fim de 2016, uma
espécie de complementação das delações de seus executivos, que eles
chamam de "recall".
Isso
porque, segundo investigadores, funcionários da Andrade não detalharam o
esquema de propina na Cidade Administrativa e em outras duas obras
especificadas nas delações da Odebrecht: a construção do Rodoanel e do
Metrô, em São Paulo.
Nas
próximas semanas, o ex-presidente da AG Energia Flávio Barra e o
ex-vice-presidente institucional da empresa Flávio Machado serão ouvidos
novamente em Curitiba. Outros executivos da empresa também podem ser
incluídos no "recall"
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