Eduardo Guimarães é responsável pelo Blog da Cidadania
Michel Temer investiu-se de uma missão árdua: convencer as pessoas a
gostarem de seu governo mesmo que não tenham a menor razão para tanto.
Ele acredita nos poderes mágicos da mídia omissa e dos marqueteiros
espertalhões.
Para o autoproclamado “presidente da República” – que muitos preferem
chamar de usurpador –, porém, é perfeitamente possível a vida das
pessoas continuar piorando e elas continuarem colocando a culpa nos
“governos anteriores” ad aeternum.
No mundo real, porém, teria que fazer mágica para conseguir algo meramente parecido com apoio popular. Então ele tentou fazer.
Em comunicado divulgado no Portal Brasil sob o título “120 dias com coragem para fazer as reformas de que o Brasil precisa”, Temer começa mentindo – contabiliza apenas 120 dias de gestão, sendo que assumiu há exatos 232 dias.
Para fazer mágica, Temer diz que sua “posse efetiva” ocorreu há 120
dias, mas o mesmo Temer disse, recentemente, que ignorou a condição de
interino e governou desde maio “como se efetivo fosse”
Será que Temer esqueceu o que disse? Claro que não. Ele sabe que
pouca gente neste país se informa corretamente sobre política – lendo e
ouvindo os dois, três, quatro lados, enfim, quantos lados houver.
Temer fala em “coragem”, mas tem evitado comparecer a palanques, estádios e até velórios por medo de ser vaiado.
O comunicado temerário enumera 40 medidas “que já se tornaram
realidade”, como se tudo que se tornasse realidade fosse bom. Desastre
de trem pode se tornar realidade e nem por isso é bom.
É o caso das medidas econômicas que perpetrou ou está para perpetrar
com a cumplicidade do mesmo Congresso que é seu comparsa no golpe para
derrubar o governo legítimo do Brasil.
Temer diz que a reforma da Previdência vai garantir a aposentadoria
“das gerações atuais e futuras”, mas não explica, por exemplo, que há
Estados onde a expectativa de vida dos homens é de 65 anos, idade em que
começaria a aposentadoria só de quem começou a trabalhar aos 15 anos de
idade e nunca ficou desempregado.
Diz que o governo assegurou a “moralização das nomeações nas
estatais”. Há poucas semanas, Temer loteou seis vice-presidências da
Caixa entre partidos aliados. As nomeações atenderam a PSDB, PP, PR,
PSB, DEM e PRB.
Temer gaba-se do teto de gastos públicos que irá vigorar por 20 anos e
que deve promover um desaquecimento dramático da econômica em um
momento em que o país precisaria voltar a crescer e, para tanto,
precisaria que o Estado liderasse os investimentos.
Temer disse que está fazendo ajustes nas contas públicas sem criação
de novos impostos. Sim, claro, porque vai tirar dinheiro da Saúde, da
Educação, do saneamento básico, do transporte, da Segurança Pública para
que ricos não paguem mais impostos, já que pobre não tem como pagá-los
porque mal ganha para sobreviver.
Será tão difícil explicar isso ao povo? Duvido.
Temer ainda fala de bobagens como “redução do número de ministérios”,
medida que não representou nada, feita para enganar trouxas, já que as
pastas que existiam com microestruturas continuarão assim, agora
fundidas.
Só muda a contabilidade do número de pastas, não o gasto com elas. E,
se mudar, não muda pela extinção de pastas, mas pelo recém-criado “teto
de gastos públicos”.
Temer se gaba da Lei que desobriga a Petrobras a ser operadora de
todos os blocos de exploração do pré-sal, quando esse é um passo para a
desnacionalização da gigantesca reserva petrolífera, que, nos próximos
anos, os golpistas tentarão doar ao capital estrangeiro em troca de
gordas propinas.
O usurpador Michel Temer ainda tenta engabelar a sociedade dizendo que fez a inflação cair, quando se sabe que ela começou a cair em janeiro, muito antes de Dilma ser derrubada pelo Senado.
Mas não importa muito o que os golpistas pensam, o que importa é que
eles só conseguirão fazer a mágica de que precisam para não serem
defenestrados pelo voto em uma eleição que pode ocorrer tanto em 2018
quanto no ano que entra se conseguirem aliviar a situação aflitiva em
que o povo está mergulhando cada vez mais.
Mas como Temer fará a vida do povo melhorar? O congelamento de gastos
públicos inibe o grande motor de investimentos, o setor público. E o
setor privado cansou de pregar essa peça no Brasil dizendo que só vai
investir se o país arrochar salários, direitos, programas sociais.
Vai ser difícil o país se recuperar do que os golpistas estão
fazendo. E o pior talvez nem seja a retirada de direitos, arrocho dos
salários, da previdência, dos programas sociais, mas a doação do
pré-sal. Esse vai ser o maior roubo do mundo.
Mas nem tudo é má notícia. A continuidade dessa desgraça mal chamada
de “governo” Temer vai devolver o juízo ao povo – e, quando se diz
“povo”, não é alusão àqueles vagabundos que vestiram camiseta da
Seleção, mas ao povão mesmo, aos brasileiros que carregam este país nas
costas em suas extenuantes jornadas de trabalho assalariado.
O prejuízo aos brasileiros que será causado por essas reformas será
fortemente sentido e vai fazer piorar a vida de todo mundo. E aí entrará
de novo em campo o fenômeno que fez o povo condescender com o golpe
parlamentar contra Dilma.
Os brasileiros gostam de milagres – deve ter algo a ver com a
religiosidade desmesurada deste povo. Acreditamos, os brasileiros, que
tirando o PT do poder tudo entraria nos eixos, como diziam os golpistas.
Acreditaremos que, trazendo Lula de volta, retornará a prosperidade que
permeou todo o seu governo de oito anos.
Na verdade, para impedir que o PT dê a volta por cima a mídia e seu
braço policial (Lava Jato) sabem que só resta a extinção autoritária do
partido, por decisão de Estado. E a prisão de Lula, claro. Sem esses
dois atos de arbítrio, o PT e Lula voltam muito antes do que se pensava.
Isso é o que resulta da mentira. Se o inferno existir, deve ser um
lugar em que você tem que ficar correndo atrás das mentiras que será
obrigado a contar dia após dia.
A mentira é mais torturante para quem a conta do que para quem a
escuta. O mentiroso tem que ir contornando e escondendo os fatos, senão
eles vêm à tona. E é isso o que vai acontecer com os golpistas.
Por enquanto, vão ficar com essa malandragem de tentar fazer as
pessoas acharem que eles estão há pouco tempo no poder. E de atribuírem a
Dilma, a Lula e ao PT a culpa pela sabotagem que eles praticaram no
Congresso e com a Lava Jato.
Mas como será daqui a seis meses, quando as medidas duras que foram
propostas agora ao Congresso já estiverem se fazendo sentir? Vai ser uma
desgraça. O povo vai ficar furioso quando vierem com a desculpa de que a
culpa é do PT, do Lula, da Dilma…
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