O
escândalo do mensalão mostrou por que tantos políticos se estapeiam
pelo controle de estatais. A disputa pelas empresas públicas é parte do
jogo sujo das eleições. Os órgãos mais cobiçados são chamados de
"fabriquinhas". Produzem milhões de incentivos para bancar partidos e
campanhas.
Quem
nomeia passa a influir em contratos e licitações. Também garante acesso
privilegiado aos fornecedores, que pagam pedágios e retribuem favores
com doações. Assim funciona a parceria ancestral entre políticos e
empreiteiros, foco das investigações da Lava Jato.
A
regra é tão conhecida que passou a ser vista como o padrão normal da
política. "Alguém imaginava que os partidos disputavam diretorias de
estatais para fazerem coisa boa?", ironizou nesta quarta (22) o ministro
Luís Roberto Barroso, em julgamento no Supremo Tribunal Federal.
A corte discutia o caso do deputado Eduardo Cunha, que virou réu pela segunda vez sob a acusação de desviar dinheiro da Petrobras para as contas que ele diz não ter na Suíça.
"Isso
faz parte da rotina brasileira há muito tempo. O propósito era este
mesmo: desviar recursos", afirmou Barroso, ao comentar a guerra por
cargos na estatal. "É triste. Dá uma sensação muito ruim de que o jogo é
jogado de uma forma muito feia."
Apesar
do diagnóstico sombrio, o ministro concluiu o voto com uma mensagem
positiva. "Há uma coisa nova acontecendo no Brasil. Não é mais aceitável
desviar dinheiro público, seja para o financiamento eleitoral ou para o
próprio bolso", disse.
Ele
lembrou que a sociedade já deixou de ser tolerante com outros males
antigos, como o racismo e a violência contra a mulher. "Estamos vivendo o
fim de uma era de aceitação do inaceitável", afirmou.
Gostaria de compartilhar do otimismo do ministro, mas as ofertas de Dilma Rousseff para barrar o impeachment e de Michel Temer para aprová-lo sugerem que a regra do jogo ainda não mudou.
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