domingo, 5 de julho de 2015

PSDB se firma como oposição sem projeto

Por Hylda Cavalcanti, da Rede Brasil Atual

Brasília – Votação maciça pela redução da maioridade penal, apoio a presos da Venezuela acusados de tentativa de golpe contra o governo de Nicolás Maduro, articulação pelo pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, convocação de manifestações contra Dilma ao lado de extremistas que querem a volta da ditadura, redução da participação da Petrobras no pré-sal, apoio à legalização da terceirização e dos financiamentos de empresas a partidos em campanha. A agenda conservadora tomou conta do cotidiano do PSDB na política brasileira – no Congresso, em governos estaduais como os de São Paulo e do Paraná, nas ruas e nas redes sociais.
As constantes trocas de posição e posturas dúbias observadas pela legenda têm levado antigos dirigentes e cientistas políticos a questionar como pensa e age a nova geração de tucanos, distanciada cada vez mais se comparadas as raízes da social-democracia de centro-esquerda que marcaram a criação do partido, na década de 1980. É sob esse rosto desfigurado que, neste domingo (5), o PSDB realiza sua 12ª convenção nacional, para definir os nomes de sua nova direção.
A posição dos deputados tucanos foi fundamental para a aprovação da proposta de redução da maioridade penal durante a votação da PEC 171, na semana passada, na Câmara. Antes, os tucanos haviam acenado para a possibilidade de se unir ao governo e fechar questão contra a redução da maioridade penal. Até porque uma proposta considerada alternativa, que tramita no Senado e sugere, em vez da redução o aumento de medidas socioeducativas para menores infratores por meio da alteração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é de autoria do senador José Serra (PSDB-SP). Mas não teve jeito: recuaram da articulação e se uniram ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pela redução na apreciação do relatório da PEC.
Também pesaram contradições observadas nos últimos meses, como o comportamento adotado pela sigla em relação ao fator previdenciário, no início de junho, e a desastrosa iniciativa de coordenar a viagem de um grupo de senadores até a Venezuela para interferir nas decisões políticas do governo democraticamente eleito de um outro país. O atrapalho rendeu piadas em redes sociais e depoimentos irônicos contra os integrantes da sigla.
Os tucanos votaram, ainda, pela derrubada do fator previdenciário (criado no governo Fernando Henrique Cardoso e considerado uma das principais bandeiras para contenção do déficit da previdência) durante a votação da Medida Provisória 664 e a iniciativa, que chegou a ser chamada de “populista” pelo próprio ex-presidente, provocou bate-boca entre os parlamentares da legenda.
Sem projeto de país
Na avaliação do cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), a mudança de postura dos tucanos é observada porque o partido tem atuado com foco principal nas eleições. O estímulo aos discursos de ódio e intolerância, mais fortemente presente nas duas últimas derrotas presidenciais, em 2010 com Serra e 2014 com Aécio, se intensifica agora com vistas a 2018. Em todos os casos, os ataques aos governos petistas prevaleceram sobre o que o eleitorado mais costuma apreciar: propostas.
“O PSDB não tem um projeto de país na cabeça e sim, uma eleição, que é a de 2018. As decisões tomadas agora objetivam levar a legenda a estar bem posicionada até lá. Como o governo Dilma Rousseff adotou uma agenda impopular, os tucanos querem aproveitar isso para expor o PT e desgastá-lo ao máximo, mesmo que para isso comprometam suas agendas históricas”, acentuou.

Barreto também considera que a legenda procura “surfar na onda” de insatisfação da classe média com o governo, numa tentativa de ser protagonista das reclamações. “O perigo dessa estratégia é que os tucanos, dessa maneira, abolem totalmente bandeiras que os aproximavam da centro-esquerda e correm o risco de ficar a reboque de organizações da direita, como as que pedem o impeachment da Dilma e a intervenção militar no país”, afirmou.

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