Dilma, como qualquer presidente de qualquer país, apareceu em uma foto torcendo pela Seleção. Veja é quem está usando politicamente o futebol, não Dilma
Não tem a mínima importância o conteúdo da patética matéria de
capa da edição da revista Veja que chegou às bancas em 12 de julho de
2014. Além de tal matéria não ser reportagem nem editorial, não se
sustenta em nada além de torcida pura e simples dos donos da revista.
Qual seja, torcida para que a oposição a Dilma Rousseff lucre
eleitoralmente com as derrotas fragorosas da Seleção brasileira.
Não que isso não possa ocorrer; não se pode prever reações de massas
em comoção, e as duas derrotas sucessivas da equipe do técnico Felipão
provocaram, no mínimo, comoção no país inteiro.
Mas pode-se afirmar o que é racional e inquestionável: governante
nenhum pode ser cobrado por uma derrota no futebol ou em qualquer outro
esporte – presidentes da República, por exemplo, não nomeiam nem os
técnicos nem quem os nomeia, e tampouco convocam ou treinam jogadores.
Chega a ser uma sandice ter que explicar isso. Nunca se
responsabilizou um presidente da República pelos resultados da Seleção
brasileira. Ganhando ou vencendo, nunca responsabilizaram Fernando
Collor, nunca responsabilizaram Itamar Franco, nunca responsabilizaram
Fernando Henrique Cardoso e, por incrível que pareça, nem mesmo
responsabilizaram Lula.
Dilma, como qualquer presidente de qualquer país, apareceu em uma foto torcendo pela Seleção. Não há nada de demagógico nisso.
Um presidente da República representa todos os brasileiros. Se ela
não aparecesse torcendo pela Seleção em um evento desse porte em seu
próprio país no mínimo seria acusada do oposto, de torcer contra. Nesse
caso, a capa de Veja diria algo mais ou menos assim: “Será que ela
torceu contra?”
Neste ano, além de Dilma, muitos outros presidentes apareceram em
fotos torcendo por suas seleções. E não foram “ditadorezinhos
bolivarianos”, foram chefes de grandes nações.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, por exemplo, deixou-se
fotografar assistindo o jogo da seleção norte-americana a bordo do Air
Force One.
A premiê alemã, Angela Merkel, posou incontáveis vezes com a seleção
vitoriosa de seu país e tem aparecido frequentemente torcendo.
Meu Deus!, o dodói da Veja, Fernando Henrique Cardoso, não diferiu de Dilma, de Merkel, de Obama.
Agora, Veja foi tirar da foto de Dilma torcendo pela Seleção a tese
de que ela, por isso, estaria politizando o futebol. É ridículo, é
injusto e, pior, é um desrespeito com a sociedade, pois Veja é quem está
usando politicamente o futebol, não Dilma. Porém, Veja acusa a
presidente de fazer o que quem está fazendo é a revista, descaradamente.
O que importa não é o conteúdo da matéria de capa da Veja desta
semana, que ninguém vai ler exceto os psicóticos que compram aquela
porcaria para se masturbarem politicamente com as próprias convicções. O
que importa é a capa, a manchete. É por meio delas que a mídia
brasileira joga sujo, através de ideias burras e prontas como essa, a de
Dilma ser responsável pelo desempenho da Seleção
Neste momento, nada mais resta além de torcer para que prevaleça o
bom senso dos brasileiros. Se a torcida de Veja vingasse, este país
passaria vergonha que não passou na organização da Copa e nem no
desempenho da Seleção, pois uma foi ótima e o outro não é vergonha, já
que “ganhar ou perder faz parte do jogo”. Se Veja triunfasse, posaríamos
como um povo infantil, estúpido e injusto.
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