Paulo
Nogueira
O furo
mais sensacional do New York Times nos últimos dias apareceu não nas páginas de
política ou de economia. Surgiu numa coluna que é um consultório sentimental.
Um leitor mandou uma carta anônima cujo título era: “O Amante de Minha Mulher”.
Nele, o
homem enganado pedia conselho. Descobrira que sua mulher estava tendo um caso
com um homem que estava fazendo um trabalho vital para o futuro do país – “e
não existe exagero aí”. Nas vezes em que se viram, disse o anônimo, o homem com
quem sua mulher saía sempre o tratou muito bem, um sinal de que não sabia que
ele sabia.
Que
fazer? Repudiar a mulher? Esperar, como um estoicismo patriótico, o final da
missão do grande homem?
Para
encurtar: o autor da carta estava se referindo ao general David Petraues,
diretor da CIA e a figura mais admirada, em muitos anos, das Forças Armadas
americanas. Petraues, nos anos 1990, quando parecia que a hegemonia dos Estados
Unidos era para sempre, chegou a ser cotado para concorrer a presidente.
Aos 60
anos, casado, dois filhos adultos, a carreira de Petraues chegou ao fim
espetacularmente. Ele renunciou tão logo sua infidelidade se tornou
pública, pouco depois da carta publicada no New York Times.
Petraues
tinha um caso com a escritora que escreveu um livro sobre ele, a jornalista e
escritora Paula Broadwell, 40 anos, dois filhos pequenos com o homem que
recorreu ao consultório sentimental do jornal.
Paula
Manter um
caso secreto já é duro. O problema é que Petraues tinha dois, e foi aí que ele
se enrolou. Ele se envolveu romanticamente também com uma militar lotada no
Departamento de Estado, Jill Kelley, de 37 anos, igualmente casada.
Jill
avisou ao FBI que estava recebendo emails ameaçadores de Paula. O FBI invadiu a
caixa postal de Paula, e encontrou Petraues. A maior preocupação era com a
possibilidade de Paula ter tido acesso a informações confidenciais.
Petraues
foi absurdamente incensado pela mídia americana em duas guerras nas quais os
Estados Unidos acabaram fracassando espetacularmente, a do Vietnã e a do
Iraque. No Iraque, os jornalistas americanos, pela primeira vez, trabalharam
acoplados – embedded – às tropas. Foi um caso antológico de
promiscuidade.
A queda
de Petraues vem se prestando a piadas de toda natureza. “Se o diretor da CIA
não consegue manter um caso secreto, quem conseguirá?”, zombou um
comediante.
Foi
também amplamente citado o título do livro escrito por Paula Broadwell: “All
in”. Era uma alusão ao tudo ou nada do pôquer. Mas passou a ser entendido
literalmente, dada a situação. Tudo dentro. De Paula, e de Jill.
Todo
império em seu declínio alterna momentos de drama com momentos cômicos, agonia
e risos, crispação e gargalhadas. A maior contribuição que Petraues deu a seu
país, e ao mundo, talvez tenha sido a comédia amorosa com a qual ele forneceu
risos em escala mundial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário