Fizeram tudo que podiam para transformar as eleições em uma derrota para Lula e o PT, mas não foi isso o que aconteceu
Termina no próximo domingo a eleição municipal de 2012. Em 50
cidades, os eleitores voltam às urnas para votar em um dos candidatos a
prefeito que disputam o segundo turno.
Entre essas, na maior cidade brasileira e outras 16 capitais estaduais.
Foram as eleições mais conturbadas desde a redemocratização. Por
decisão sem fundamento técnico, o Supremo Tribunal Federal (STF)
resolveu fazer o julgamento do “mensalão” exatamente no meio do período
eleitoral.
O ápice dessa “coincidência” ocorre ao longo desta semana, que os ministros consideram adequada para terminá-lo.
Para não atrapalhar a viagem ao exterior do Relator - certamente de
importância fundamental para o País -, vão deliberar a respeito das
penas aos condenados nas vésperas da eleição. Em tempo de preparar as
manchetes dos últimos dias.
E ainda há quem se preocupe em silenciar os carros de som nessa hora,
para que não perturbem os eleitores enquanto refletem sobre sua decisão
final!
Parece que o Judiciário não se incomoda que o julgamento interfira na
eleição. Como disse o Procurador-Geral da República em inacreditável
pronunciamento, acha até “salutar”.
Os principais veículos da indústria de comunicação dedicaram ao
julgamento uma cobertura privilegiada. Na televisão, no rádio, na
internet, nos jornais e revistas, foi, seguramente, maior que aquela que
a eleição recebeu.
Só os muito ingênuos acreditariam que a grande imprensa foi movida
por objetivos morais, que estava genuinamente preocupada com as questões
éticas suscitadas pelo “mensalão”. Basta conhecê-la minimamente, saber
quem são seus proprietários, articulistas e comentaristas, para não ter
essa ilusão.
E lembrar seu comportamento no passado, quando fatos tão graves
quanto os de agora - ou mais - aconteceram sob seu olhar complacente.
Como mostra nossa história moderna - desde o ciclo Vargas aos dias de
hoje, passando pelo golpe militar de 1964 e a ditadura -, a grande
imprensa brasileira escolhe lado e não hesita em defendê-lo. Tem amigos e
adversários.
A uns agrada, aos outros ataca.
No julgamento do “mensalão”, a discussão ética sempre foi, para ela,
secundária. O que interessava era seu potencial de utilização política.
Seria engraçado imaginar uma situação inversa, na qual os denunciados
não fossem “lulopetistas” e sim representantes dos partidos que hoje
estão na oposição. Se o STF fizesse como faz agora, não mereceria o coro
de elogios que ouve, não seria tratado como bastião da moralidade.
Seus ministros, ao invés de receber tratamento de heróis, estariam sendo achincalhados.
Especialmente os indicados por Lula e Dilma. Pobres deles! Cada voto
que emitissem contra um oposicionista seria suspeito (o que ajuda a
entender porque, no caso concreto, exatamente esses se sintam no dever
de ser punitivos ao máximo).
Nunca foi tão apropriada a teoria de que a eleição municipal é a
ante-sala da presidencial. Não para a maioria do eleitorado, que não
pensa assim. Mas para a oposição - nos partidos políticos, na mídia, no
Judiciário, na sociedade.
Fizeram tudo que podiam para transformar as eleições em uma derrota
para Lula e o PT. Imaginaram que os dois sairiam delas menores,
derrotados nos principais embates. E que, assim, chegariam à eleição que
interessa, a presidencial de 2014, enfraquecidos.
Não foi isso que ocorreu nos confrontos que terminaram no dia 7 de
outubro. Pelo contrário. Se as pesquisas de agora forem confirmadas, não
é isso que ocorrerá no próximo domingo.
Goste-se ou não do ex-presidente e de seu partido, é um fato. E contra fatos, não há argumentos.
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