sexta-feira, 24 de agosto de 2012

ARTIGO DE OPINIÃO : A SERVIDÃO VOLUNTÁRIA


A Servidão Voluntária

Quem já teve o prazer de ler o livro de Etienne de La Boétie “Discurso da Servidão Voluntária” ficou surpreso como esse escritor mostra os fatores que ocasionam a servidão voluntária. E o que faz as pessoas se sujeitarem a servir a alguém que sempre os oprime. O “Discurso da Servidão Voluntária” é uma obra profundamente motivada pelo momento histórico em que está inserida. Reflete, discute e se dirige à realidade francesa da época em que foi escrita.  La Boétie viveu na França do século XVI num período do Absolutismo. Nesse regime, o rei, encarnando o ideal nacional, possui os atributos da soberania. O rei na verdade realizava o que bem lhe conviesse.
O rei, cuja soberania era um legado divino, era responsável apenas perante Deus, e os demais seres comuns eram todos servos desse senhor. Mas, como milhares podem obedecer apenas a um homem sem questioná-lo? Como Hitler pode manipular o povo alemão? La Boétie diz que há três tipos de servidão: a servidão obstinada, aquela que se perpetua, sem que o dominado se dê conta de sua situação e se esforce para dela libertar-se. O outro tipo de servidão é aquela em que o homem prefere servir a ser livre. Educado na servidão e afastado do conhecimento, da sabedoria, o homem não conhece outra realidade, senão aquela em que se encontra. Outra razão para servidão é a questão do desejo de participação na tirania. A submissão, a obediência pode funcionar como extensão do poder do tirano. Também eles, os súditos, estão dentro do sistema. Os dominados servem com o intento de participar da tirania ou através da aspiração de ser também um tirano.
Essa última análise de La Boétie talvez seja a mais plausível para explicar como muitos prefeitos do interior conseguem manter milhares de pessoas a seu serviço, sem serem questionados. Na verdade não há nenhum inocente nessa história. Muitas pessoas servem a esse sistema na esperança de que um dia possa ser também visto como importante para o sistema o qual ele serve. É como se o escravo ficasse sempre na esperança de ser chamado a comer na mesa do senhor.
Mas a liberdade tem um preço e ela só será conquistada com muita luta. Nunca haverá uma chance de a Casa Grande tratar bem a senzala, pois são mundos distintos que nunca irão se juntar. Será sempre como água e óleo; poderão estar juntos mais jamais unidos.

Texto escrito pelo colaborador do blog: Professor José Fernando da Silva, Graduado em História pela UPE: Garanhuns-PE. 

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