Por Fernando Castilho – Jornal do Commercio
O jornal O Estado de S. Paulo revelou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) determinou ao ministro da Saúde Eduardo Pazzuello que o número de mortes provocadas pelo coronavírus não pode passar de 1 mil casos/dia. E como se pôde ver no último fim de semana o ministro cumpriu a tarefa. Mas infelizmente não pôde combinar com a doença.
Até porque o seu ministério não está ajudando muito uma vez que as ações de liberação de insumos e equipamentos estão ficando travadas, porque a logística e a burocracia não estão funcionando.
Aliás, a entrega de equipamentos tem uma imagem maravilhosa porque estão sendo feitas com os quatro aviões KS 390 que a Embraer já entregou e estão sendo fundamentais para que os equipamentos cheguem.
Dá um orgulho danado ver aqueles aviões novinhos sendo testados em missões de apoio social, embora o governo não tenha valorizado isso.
Mas voltando a informação de que o presidente teria determinado que os números de mortes não podem passar de 1.000 por dia.
Não devia passar de 1000 e deveria ser mostrado pelo governo federal como uma tragédia nacional, que exige o esforço de toda a nação. Mas o presidente fez o que? Disse que infelizmente a vida é assim mesmo.
O problema de Bolsonaro é que ele está ouvindo gente que se esforça muito para dizer o que ele quer ouvir. Por exemplo o Osmar Terra.
O deputado ainda sonha ser Ministro da Saúde, frequenta o Palácio, vai conversando aqui e ali e numa oportunidade típica do xeleléu faz aquele comentário: Não estão morrendo 1 mil pessoas por dia, a Imprensa está somando os defuntos de 15 dias!
Pode ter sido exatamente assim. E aí o presidente concordando mandou o general Pazzuelo fazer uma assepsia. E missão dada missão cumprida. O ministério da Saúde passou pelo vexame de fazes essa contagem. Essa metodologia é uma prática da OMS para ter mais segurança nos números oficia da pandemia.
O diabo é que esse número poderia ser usado como uma conquista da sociedade se ele viesse diminuindo. O problema é que ele está subindo. E ele pode ser usado se vier junto com o número de comprovações de mortes suspeitas confirmadas. Se o Brasil já tem menos 1 mil numa tendência de queda é uma informação importante. Mas não é e não pode ser mostrada como a principal. Não é.
Dito de outra forma. Dizer que o número de mortes foi menor de que 1.000 é uma informação importante se ele mostra que estamos reduzindo as mortes e que venha acompanhado dos outros mortos identificados após os exames.
Agora dizer que ontem no Brasil morreram 973 pessoas porque o presidente disse que não pode passar de 1 mil é desonestidade estatística.
O que o governo precisa entender e um assessor sério deveria dizer ao presidente é que essa metodologia é internacional. É assim que se conta os mortos porque não dá tempo de saber se a pessoa morreu de covid-19 imediatamente pelo simples fato do principal teste RT-PCR exigir 72 horas. É simples não podemos dizer isso.
Pela metodologia de Bolsonaro, o estatístico, Pernambuco neste domingo teria tido apenas 2 mortos. Mas essa a informação é transitória. É assim que se faz porque ninguém está interessado em dizer que esse dado é definitivo. Tanto que o boletim esclarece “foram confirmados laboratorialmente 35 óbitos (sendo 20 do sexo feminino e 15 do sexo masculino”).
Dizer que no domingo 7 de junho morreram apenas duas pessoas é desonestidade porque a metodologia manda somar e revelar no dia que as mortes foram confirmadas. Isso tem valor estatístico, mas tem valor legal.
Então, o presidente erra ou é induzido ao erro porque quer acabar a epidemia por decreto ou porque tem um grande número de pessoas que o induz ao erro.
Se o Ministério da Saúde viesse com uma nova base mais ampla mostrando que, em duas semanas, apesar do número de mais de 1 mil porte, a curva de mortes diárias está diminuindo pelas ações que os governadores e prefeitos estão fazendo, essa nova informação ajudaria muito pois mostraria que está havendo uma redução diária das mortes.
Jogada apenas como um número liofilizado pelo Ministério da Saúde por ordem do presidente é desonestidade estatística e joga pra terra todo o trabalho de coleta de dados da pasta com todas as implicações política disso.
Mas vai dizer isso a um presidente que ainda ouve as interpretações de um deputado que em abril disse que a covid-19 estaria eliminada na primeira semana de junho?
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