FERNANDO BRITO · No Tijolaço
Igor Gielow, na Folha, diz que a Boeing comunicou oficialmente que desistiu de comprar a Embraer, negócio fechado no governo Temer, mas com prazos de confirmação que terminavam hoje.
A Boeing fala em a Embraer “não teria cumprido todas as suas obrigações contratuais para executar a separação da sua linha de aviões regionais”.
Todos sabem, porém, é que a questão real é a falta de dinheiro da empresa, que vem de antes da crise global da aviação com a pandemia do Covid-19, com os defeitos de fabricação que derrubaram seu novo modelo 737 Max, após dois acidentes, estacionando no solo centenas de aviões.
Agora, com a queda imensa – em alguns países, de 90% – do tráfego de passageiros, não só não se fará, por um longo tempo, novas encomendas de aeronaves como devem ser rompidos ou renegociadas as comprar que já estavam em carteira pelos fabricantes.
É óbvio que o governo norte-americano não deixará desaparecer sua maior empresa aeronáutica e de aviação militar (entre muitos, os F-18, os F-15 e os helicópteros Apache, são de sua construção) e importante fabricante de sistemas espaciais.
Por isso mesmo, terá de ser pressionado para que a Boeing pague à Embraer as indenizações pela desistência do negócio, porque a brasileira fez pesadas despesas na separação das linhas militar e comercial de produção, porque a primeira ficaria ainda sob controle brasileiro, ainda que meramente formal.
O governo brasileiro, já na gestão Bolsonaro, abriu mão de usar o poder de sua “golden share”, que lhe dava o poder de barrar a venda da empresa.
Alguém, porém, imagina que, sabujo como é a Donald Trump, este governo defenderá a empresa, mesmo com os apelos dos militares?
O recuo da Boeing em comprar a Embraer tem suas especificidades, mas também retrata o cenário geral de retração do capital estrangeiro com que sonham para reagir à recessão.
Teremos de depender de nós mesmos, mas temos uma elite que nunca descobriu isso.
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