Um pouco de rua, estes dias, já permitiu fazer os primeiros testes sobre o impacto do anúncio da reforma da Previdência.
Algumas das questões que ninguém abria a boca para apoiar: a redução das pensões, os benefícios abaixo do salário mínimo e o aumento do tempo de contribuição.
A idade mínima não era o foco, diretamente, mas o que ela trará de gente contribuindo por mais de 40 anos para ter aposentadoria com benefício integral, quando está a três ou quatro anos de colher o seu tempo de descanso ou, como na maioria dos casos, de seguir trabalhando mas com a garantia de sobrevivência do INSS.
Estas maldades, junto com a aposentadoria rural que desperta reações entre governadores e parlamentares do Nordeste e de áreas do interior são as mais sensíveis.
É delas que vem o naco mais substancial das economias previstas pela turma do Paulo Guedes, embora não seja delas que venha
Mas é bom não fazer pouco das resistências que vão surgir no “andar de cima”, com o aumento das alíquotas de contribuição dos funcionários públicos de salários elevados, sobretudo magistrados e procuradores, que se articulam, como diz hoje a Folha, contra a mordida que o projeto Bolsonaro lhes dá para ter cobertura para iludir as pessoas de que o pacote tira mais dos ricos de dos mais pobres, como já se desmistificou aqui.
Talvez seja por aí – e pelo projeto de mudanças na aposentadoria dos militares (e com ele os PMs) – que o governo tenha de começar a falar mais fino e isso será terrível para o falso viés “Robin Wood” com que tenta sustentar a reforma no debate público.
Porque, na falta de uma trajetória de atuação por justiça social, o bolsonarismo assumiu que a culpa pelas dificuldades do país é das elites “corruptas”, políticas ou corporativas, às quais terá de ceder e ceder com fala mansa, em nome da viabilidade da reforma. Vai ter de conversar e ceder aos “políticos”, essa raça que tornaram amaldiçoada.
Com a rua, porém, terá de falar grosso, pois é do povão e da classe média que se aposenta por tempo de contribuição que terá de ser inflexível, para agradar a um mercado que se lixa para que existam privilegiados, até porque eles próprios os são.
A reforma Bolsonaro começa, apesar de todo o apoio midiático que tem, politicamente pior do que a de Michel Temer começou.
Depois do carnaval, quando se instalar a Comissão de Constituição e Justiça, assistiremos os primeiros passos do balé da hipocrisia.
E uma tramitação que será muito mais lenta do que sonham os que chegam a dizer que a reforma será aprovada ainda no primeiro semestre.
É que a sua apresentação serviu, até agora, para justificar a completa ausência de política econômica e os sinais de que o que andava mal tende a piorar se intensificam.
Ou será que acham que umas escaramuças bélicas lá em Roraima vão manter as atenções do país?
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