domingo, 2 de setembro de 2018

A noite em que Brasília consolou Chico Buarque

Por Helena Chagas no Blog Os Divergentes


A não ser pelo tradicional “boa noite”, e por uma explicação sobre a música feita em parceria com o neto Chico Brown, Chico Buarque não falou com o público no Centro de Convenções de Brasília nesta sexta-feira. Chegou macambúzio ao palco onde o raio do destino o colocara, para se apresentar exatamente na mesma hora em que o TSE cassava a candidatura de Lula. Chico não falou. Mas como falou!

Cada música foi um recado, e ele pareceu ir recuperando as energias perdidas ao longo do espetáculo, sobretudo depois que a platéia passou a entoar, seguidamente, “Lula livre”, ou “Olê, Olê, olê-o-lá, Lula, Lula…”.

Sem responder diretamente, ou sequer comentar as manifestações, o sisudo Chico Buarque foi descontraindo, enquanto cantava “sabiá” (Vou voltar/ Sei que ainda vou voltar…), Ópera do Malandro e outras obras-primas da sua poesia. Encerrado o show, voltou ao palco três vezes a pedido da platéia, a primeira delas para cantar “Geni e o Zepelim” (Joga pedra na Geni/Joga bossa na Geni…), uma das melhores descrições do sentimento da ingratidão já feitas em música…

Ao final de tudo, o Chico que havia entrado abatido e tenso no palco saltitou, correu de um lado para o outro, deu e ganhou beijinhos e saiu de cena carregando um pano vermelho que ganhou de um fã.

A multidão saiu do teatro entoando “Lula livre” e cantando ” Apesar de você..”. Por incrível que pareça, parece ter sido um dia em que o público de Brasília consolou seu ídolo.

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