Bernardo Mello Franco - O Globo
Nunca houve tantas famílias obrigadas a deixar a sua terra natal. A ONU informou ontem que o número de pessoas deslocadas à força chegou a 68,5 milhões em 2017. A crise humanitária pôs o tema dos refugiados no centro do debate político dos países desenvolvidos.
Na Europa e nos EUA, a xenofobia voltou a ser uma poderosa arma de campanha. Donald Trump chegou à Casa Branca com a promessa de construir um muro para barrar a entrada de mexicanos. No Reino Unido, o discurso anti-imigração levou a população a aprovar o Brexit, o rompimento com a União Europeia.
Agora a onda cresce em outros países europeus. Na Alemanha, a reação aos refugiados ameaça o longo reinado de Angela Merkel. Na Itália, os ultranacionalistas da Liga Norte acabam de se instalar no poder. Na segunda-feira, o vice-premiê anunciou um plano para expulsar ciganos.
Se o leitor já está cansado de más notícias, aí vai mais uma: a xenofobia tem tudo para desembarcar na eleição brasileira. É o que indicam a atuação de grupos radicais na internet e o discurso do candidato que lidera as pesquisas.
No ano passado, militantes de ultradireita fizeram barulho contra a nova Lei de Migração, que assegurou direitos básicos aos imigrantes. O texto teve apoio suprapartidário: foi apresentado por um senador do PSDB e relatado por um deputado do PCdoB. Isso não conteve os protestos. Uma marcha na Avenida Paulista terminou com quatro menifestantes detidos.
O presidenciável Jair Bolsonaro tenta surfar a onda da intolerância. Ele já chamou de “escória do mundo” imigrantes de países como Haiti e Síria. Depois defendeu a construção de campos de refugiados para isolar venezuelanos em Roraima, sob a alegação de que “já temos problemas demais aqui”.
Quem estuda o tema a sério garante que a imigração está longe de ser um risco para o Brasil. O pesquisador Leonardo Monasterio, do Ipea, lembra que o país tem apenas 0,9% de estrangeiros — nos EUA, são 14%. Ele elogia a nova lei e afirma que a economia se beneficiou da última grande onda imigratória, encerrada em 1920.
“Se o Brasil não tivesse recebido tantos italianos, japoneses e alemães, nossa renda per capita seria 18% menor”, diz Monasterio, com base num estudo que pretende apresentar em agosto, no Insper. “E esses imigrantes sofreram o mesmo preconceito que nós vemos hoje”, observa.
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