Folha de S.Paulo – Camila Mattoso e Ranier Bragon
O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) divulgou nas redes sociais nesta terça-feira (9) um número inflado da economia que teria feito aos cofres públicos nos últimos oito anos.
O presidenciável publicou uma tabela anual com o total de seus gastos do "cotão", a verba mensal que cada deputado tem para custeio de atividades relacionadas às suas atividades legislativas.
Com a inscrição "aguardando divulgação por parte da Folha de S.Paulo e demais órgãos de imprensa" e a sua foto de braços cruzados, Bolsonaro afirmou na publicação que teria devolvido aos cofres públicos R$ 1,3 milhão do "cotão", de 2010 até 2017.
A Folha checou valores com base em dados oficiais e públicos da Câmara. Na verdade, segundo as informações da Casa, o deputado gastou muito mais do que publicou na tabela.
Pelos números da Câmara, o parlamentar consumiu nos oito anos R$ 2,5 milhões do "cotão", não R$ 1,7 milhão, como publicou nas redes sociais.
Com isso, ele deixou de utilizar, na verdade, R$ 486 mil, e não R$ 1,3 milhão como afirmava em sua publicação. A média de "economia" ficou em R$ 61 mil por ano.
Bolsonaro também não "devolveu" nem esse dinheiro, como indicou em sua publicação, já que a Câmara não "credita" valores para que os deputados gastem. Ela, na verdade, reembolsa eventuais custos, mediante apresentação de comprovantes.
As despesas referentes a 2017 podem aumentar porque o gabinete tem até este mês de janeiro para prestar contas de dezembro passado.
A cota de exercício da atividade parlamentar é oferecida pela Câmara para custeio de gastos como passagem aérea, alimentação, combustível, aluguel e material de escritório, entre outros, tudo relacionado à atividade parlamentar. No caso de parlamentares do Rio, o cotão é de R$ 35.759.
Em 2012, por exemplo, a tabela de Bolsonaro dizia que ele só gastou R$ 155 mil de R$ 321 mil a que teria direito naquele ano. Com isso, teria deixado de utilizar R$ 166 mil.
Na verdade, a economia foi bem menor porque Bolsonaro gastou em 2012 R$ 303 mil, cerca do dobro do que informou aos seus seguidores nas redes sociais.
No domingo, a Folha publicou que o presidenciável e seus três filhos parlamentares multiplicaram o patrimônio na política, reunindo atualmente 13 imóveis em áreas valorizadas do Rio e de Brasília, com preço de mercado de cerca de R$ 15 milhões.
Na segunda, a Folhamostrou que Jair e seu filho Eduardo, também deputado federal, receberam R$ 730 mil de auxílio-moradia da Câmara desde 1995 (Eduardo desde 2015) mesmo tendo apartamento próprio em Brasília.
O auxílio-moradia é pago a deputados que não ocupam apartamentos funcionais no DF. Como há mais deputados do que vagas em imóveis destinados a eles, a Câmara desembolsa para cada um desses, por mês, R$ 4.253.
NOTAS
Há duas formas de pagamento: 1) por meio de reembolso, para quem apresenta recibo de aluguel ou de gasto com hotel em Brasília, 2) ou em espécie, sem necessidade de apresentação de qualquer recibo, mas nesse caso com desconto de 27,5% relativo a Imposto de Renda.
Jair e Eduardo Bolsonaro utilizam essa segunda opção, o que rende mensalmente, para cada um, R$ 3.083. O salário de um deputado federal é de R$ 33,7 mil.
O auxílio-moradia pode ser recusado pelos congressistas. Em, novembro, 27 dos 513 deputados abriram mão do benefício.
OUTRO LADO
Procurada pela reportagem, a assessoria do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) informou que estava "apurando a falha". A reportagem perguntou se o parlamentar gostaria de se manifestar sobre as diferenças de valores em relação aos números da Câmara, mas não houve resposta. Na noite desta terça (9), a equipe do deputado divulgou uma versão reduzida da tabela, com correções.
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