Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
O caso do homem nu no Museu de Arte Moderna foi um presente para a bancada dos homens de bem. Desde a semana passada, políticos que surfam a onda conservadora se esforçam para tirar uma casquinha do episódio. Depois dos prefeitos de São Paulo e do Rio, chegou a vez dos deputados federais.
Na terça-feira, dois deles defenderam tortura e "porrada" nos envolvidos na performance. "Bando de safados, bando de vagabundos, bando de traidores da moral da família brasileira! Tem que ir para a porrada com esses canalhas!", esbravejou João Rodrigues (PSD-SC).
O deputado é o mesmo que foi flagrado vendo fotos e vídeos pornográficos no plenário em 2015. Questionado, ele culpou amigos que "mandam muita sacanagem" para seu celular.
Depois foi a vez de Laerte Bessa (PR-DF), dublê de deputado e delegado. "Se aquele vagabundo fosse fazer aquela exposição lá no Goiás, ele ia levar uma 'taca' que ele nunca mais ia querer ser artista", ameaçou.
Ele aproveitou para exaltar instrumentos de tortura. "Direitos humanos é um porrete de pau de guatambu que a gente usou muitos anos em delegacia de polícia", ironizou. Em abril, a Justiça condenou Bessa por chamar o governador do Distrito Federal de "frouxo" e "maconheiro".
Na quarta, o deputado Pastor Eurico (PHS-PE) encontrou outro judas para malhar na tribuna. Ele atacou uma exposição de fotografias no Museu da República, em Brasília. "Está aqui: nudez! As crianças estão lá. Cadê os defensores das crianças? Isso é cultura? Isso é arte? Até que ponto estamos chegando?", discursou.
A arte e a nudez sempre foram alvos fáceis para os moralistas de ocasião. A novidade é a existência de um ministro da Cultura disposto a alimentar as feras. Em reunião com a bancada evangélica, Sérgio Sá Leitão endossou as críticas ao MAM e prometeu incluir um artigo na lei Rouanet para atender aos pastores. Ver o MinC se curvar ao obscurantismo parece demais até para o Brasil de 2017
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