segunda-feira, 18 de setembro de 2017

O vexame de Janaína e o baixo nível do golpe


GUILHERME COUTINHO

Jornalista, publicitário e especialista em Direito Público. Autor do blog Nitroglicerina Política

Janaína Paschoal foi peça central do jogo de cartas marcadas que destituiu Dilma Rousseff e içou ao poder Temer e o quadrilhão do PMDB. A espalhafatosa advogada, que não esconde seu lado evangelo-fascista em seus discursos, defende com arrogância seus argumentos golpistas, com a imponência dos grandes juristas da história. No entanto, aparentemente, Janaína não defendeu outra tese de uma forma minimamente aceitável. Ela amargou a última colocação no concurso que prestou para a USP. Não foi o desempenho da autora que caiu: é que agora a peça foi avaliada por especialistas, não por Eduardo Cunha.

O certame em questão foi para o de professor titular da USP, que ofereceu duas vagas, uma delas a de Miguel Reale, co-autor da peça do impeachment, que está se aposentando da instituição. Janaína escolheu um tema coerente aos seus discursos, que frequentemente associa questões jurídicas com providências divinas: "Direito Penal e Religião – As Várias Interfaces de Dois Temas que Aparentam ser Estanques". Impossível não associar ao (nem tão) célebre discurso da advogada que atribuiu ao Sagrado sua atuação no processo do golpe. "Eu acho que se tiver alguém fazendo algum tipo de composição neste processo é Deus", declarou, de forma infeliz, na ocasião.

Para a decepção dos apoiadores do golpe, a nota de Janaína foi um vexame. Ela não apenas ficou com a última colocação, como também foi a única candidata desclassificada. Janaína ficou com a nota final 6.94, abaixo de 7 (nota mínima para aprovação) e extremamente distante dos candidatos aprovados, que obtiveram notas acima de 9. A diferença de mais de 2 pontos demonstrou o abismo do preparo e conhecimento entre Janaína e os novos professores titulares. Como vergonha pouca para Janaína é bobagem, a jurista utilizou o seu twitter para informar, de forma enganosa, que "ganhou em último" no concurso. Não, Doutora, a senhora perdeu. Foi eliminada e teve um desempenho pífio.

Aliás, foi nessa mesma rede social que Janaína já provou várias vezes o nível de sua paranóia, macartismo e falta de preparo técnico. Já vimos de tudo em suas postagens: um alerta delirante de que a Rússia invadiria o Brasil, acusações de que Lula seria dono da JBS e cobranças enérgicas ao presidente americano Donald Trump sobre a questão da "ditadura venezuelana". Fora das redes sociais, a inteligência emocional nunca foi o seu forte. Basta relembrarmos o discurso na própria USP ,onde, atordoada, gritava e rodava a bandeira do Brasil, gritando frases desconexas. Janaína é a cara do golpe.

Ela é mesmo uma figura tragicômica do momento em que vive o país. É a prova viva do quão desprezível foi o impeachment, que desencadeou tantos absurdos e crimes de lesa pátria. Sua tese, patrocinada pelo PSDB, elevou as pedaladas fiscais à condição de única prática política inadmissível, desde que, claro, seja do PT. Janaína deixou claro que seus conhecimentos convencem um congresso corrupto, mas são insuficientes no meio acadêmico, nem mesmo para tirar a nota mínima. Mesmo assim, a golpista continuará a lecionar na instituição como docente não concursada. Que golpe nos alunos!

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