domingo, 14 de agosto de 2016

Ferrar-se


Luiís Fernando Veríssimo
A reeleição da Dilma e a perspectiva de ela ser substituída no poder pelo Lula em 2018 tornaram mais urgente a necessidade de frear, ou ferrar, o PT
O Ano do Brasil na França (2005, por aí) foi um sucesso. Tanto que, quando veio ao Brasil, num encontro com um barão da nossa imprensa, o coordenador do evento estranhou a ausência de qualquer notícia, aqui, sobre o que acontecia lá, onde nossos artistas e produtos eram bem promovidos, numa iniciativa conjunta dos governos brasileiro e francês. E ouviu do seu interlocutor uma explicação sucinta, contada por ele mesmo:
— Eu quero que o Lula se ferre.
“Se ferre”, claro, não foi exatamente o verbo usado. O verbo substituído exprimia o sentimento de parte da grande imprensa nacional e boa parte do nosso patriciado, para quem um governo do PT bem-sucedido era uma ameaça trifurcada: à ortodoxia liberal deixada pelo Fernando Henrique, ao desejado Estado mínimo, minado por um assistencialismo desenfreado, e à normalidade democrática (ou seu atual arremedo), com um PT eternizado no poder e monopolizando a vida política no país por muitos anos. A reeleição da Dilma e a perspectiva de ela ser substituída no poder pelo Lula em 2018 tornaram mais urgente a necessidade de frear, ou ferrar, o PT.
Durante muito tempo, quando as coisas se acalmarem, se discutirá se o PT foi ferrado ou ferrou-se sozinho, sucumbindo à tentação do dinheiro fácil do propinato, sem o consolo de não ser o único. O PT limpo continua, talvez até tenha futuro, mas o fato é que o desejo do tal barão da imprensa (que já morreu) se realizou.

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