Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
As
manifestações a favor do impeachment usaram dois símbolos além do verde
e amarelo da bandeira: as panelas, batidas em protesto contra a
corrupção, e o pato da Fiesp, mascote da campanha pela redução dos
impostos.
Se
este era o sentido das ruas, Michel Temer começou o governo interino
dirigindo na contramão. Nos primeiros dias de presidente, ele nomeou políticos sob suspeita e indicou que vai elevar a carga tributária.
A
nova Esplanada tem ao menos três ministros citados na Lava Jato. O
titular do Planejamento, Romero Jucá, responde a dois inquéritos no
Supremo Tribunal Federal. Ele é suspeito de receber propina em obras da
Petrobras e da Eletronuclear.
O
ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, é alvo de dois pedidos de
inquérito que ainda não foram analisados pelo STF. Seu nome circula nos
papéis da OAS. Léo Pinheiro, o falante ex-presidente da empreiteira, já
fez acordo de delação.
A
OAS também liga a Lava Jato ao novo ministro da Secretaria de Governo,
Geddel Vieira Lima. O ex-deputado é citado em mensagens sobre a
liberação de empréstimos da Caixa, da qual foi vice-presidente.
Os
três peemedebistas negam ter se beneficiado do petrolão e poderão se
defender no Supremo, longe de Curitiba. Jucá já tinha foro privilegiado
por ser senador. Alves e Geddel ganharam a proteção agora, ao serem
nomeados ministros.
Temer também pegou a contramão da rua ao sugerir, pela voz do novo chefe da Fazenda, que elevará impostos para
reequilibrar as contas públicas. "Caso seja necessário um tributo, ele
será aplicado", prescreveu o doutor Henrique Meirelles. O remédio
escolhido deve ser a velha CPMF, alvo da campanha da Fiesp.
As
próximas semanas permitirão saber se a indignação contra a corrupção e
os impostos era mesmo apartidária. Na outra hipótese, ela se limitava à
corrupção e aos impostos patrocinados pelo PT. Até aqui, o pato e as
panelas não se manifestaram.
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