Josias de Souza
Investido na condição de presidente em exercício, Michel Temer disse nopronunciamento inaugural
de seu governo provisório mais ou menos tudo o que se esperava ouvir
dele. Falou em diálogo e salvação nacional. Citou reformas. Elegeu como
prioridade a interrupção da queda livre da economia. “Em letras
garrafais”, jurou que manterá os programas sociais. Em letras mais
miúdas, fez uma rápida referência elogiosa à Lava Jato. Mas faltou algo à
primeira cerimônia do governo seminovo do PMDB: recato.
Os
novos donos do poder foram recepcionados no Planalto sob o barulho de
uma queima de fogos de artifício. Era como se a gestão peemedebista
tivesse acaba de sair das urnas. Temer não cabia em si. Normalmente
sisudo, sorria à larga. Ao discursar, engasgou um par de vezes. Pediu
água e pastilhas. Chamados pelo nome, os ministros, em sua maioria
deputados e senadores, assinaram o livro de posse sob aplausos efusivos
dos colegas. Pareciam personagens de uma festa de formatura. A atmosfera
de celebração juvenil não combinava com a gravidade do momento.
Para
completar a cena, desfilaram pelo salão de cerimônicas do Planalto
personagens como o deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que relatou na
Câmara o processo de impeachment de Dilma, e o senador tucano Aécio
Neves, presidente do PSDB, partido que migrou da oposição para dentro do
governo-tampão de Temer.
Havia
risos demais no Palácio do Planalto. E nada parece mais obsceno do que o
riso em meio às tragédias econômica, ética e política. Todos vestiam
terno na solenidade do Planalto. Mas estariam mais compostos nus, com
uma folha de parreira no rosto.
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