247-Tereza Cruvinel
A desnecessária e abusiva prisão do publicitário João Santana, agora
rebatizado de “o marqueteiro do PT”, já teve o efeito de alterar a
agenda política, tirando do noticiário o caso FHC-Miriam Dutra. Já
serviu também para realimentar a ofensiva pró-impeachment e a estratégia
da oposição de cassar o mandato de Dilma e Temer através da ação
eleitoral que será julgada pelo TSE. Ponto para a Lava Jato e para as
forças políticas a que ela serve, no fim e ao cabo.
A prisão de Santana, a segunda de um publicitário durante os
governos do PT, alimentou prognósticos de que estamos no fim de uma era
no modo de fazer política. De fato, apesar dos resultados econômicos e
sociais da era Lula, o PT desceu aos infernos essencialmente porque,
chegando ao poder, adotou duas práticas que sempre sustentaram as
elites no poder: o financiamento privado de campanhas, em conexão com as
grandes empresas, e o uso do marketing político profissional, que se
instalou em nosso sistema eleitoral logo depois da Constituinte, na
campanha de 1989, vencida por Fernando Collor com grande ajuda do
marketing. Venceu o “caçador de marajás”, titulo de uma capa
alvissareira da revista... Veja.
As campanhas de Fernando Henrique, em 1994 e em 1998, também foram
“pensadas” por marqueteiros experientes. A primeira faturou o Real, a
segunda o medo do colapso do Real diante da crise internacional daquele
momento. Lula, para ser candidato pela quarta vez em 2002, impôs algumas
condições ao PT. Uma delas, a contratação de um publicitário de
primeiro time, Duda Mendonça.
O financiamento privado existe desde o todo e sempre na política
brasileira mas quando o PT mergulhou na experiência, pensando que a
regra era permitido a todos, teve seus esquemas explodidos.
Quando dois vetores importantes do sistema político-eleitoral entram
em colapso, balizas do próprio sistema democrático precisam ser
revistas. O aviso é mesmo o de que chegou a hora de mudar as regras, de
encerrar uma era para que venha outra.
Este é um diagnóstico até convincente, que encontra eco nos que se
enojaram da política nos últimos anos. Parte deles foi às ruas em 2013
avisar que os políticos e partidos atuais não os representava. Mas será
mesmo possível uma nova era sem dinheiro dos empresários e sem
marqueteiro? Na eleição municipal deste ano veremos se o financiamento
empresarial será mesmo banido ou se a prática do caixa dois é que vai
disparar. Tendo a apostar na segunda hipótese, embora torça pela
primeira.
E quanto ao marketing, a destruição moral de publicitários de
sucesso, como já aconteceu com Duda e agora acontece com Santana, não
será suficiente para tirá-lo de cena. No mundo inteiro o marketing e o
processo eleitoral deram-se as mãos. Isso é da cultura ocidental, não
vai mudar.
O que vai mudar é o ambiente, com o restabelecimento daquela paz que
antes permitia a outros partidos fazer uso farto dos dois recursos sem
ser incomodados. Quando o PT deixar o poder, não haverá nem mídia, nem
procuradores, nem Polícia Federal interessados em descobrir como as
campanhas dos vitoriosos foram financiadas, nem como foram pagos seus
marqueteiros. Quando o PT deixar o poder, todos estes agentes da
turbulência atual vão descansar. A mídia voltará a plantar abobrinhas, a
Polícia Federal a perseguir traficantes e outros meliantes, os
procuradores a defender os direitos difusos da sociedade. Lula já será
um leão sem dentes, talvez esteja até preso, e Dilma terá ido para o
vale dos caídos, terminando ou não o mandato. E esquecidos também serão
os do andar de baixo que galgaram alguns degraus nos governo do PT, que
para se manter neles, aderiu ao que só era permitido aos outros.
Assim são as coisas. O que se busca é encerrar um ciclo, o ciclo
petista, não uma era e seus costumes políticos. Quem viver verá.
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