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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Os frutos proibidos que o PT ousou provar

247-Tereza Cruvinel

A desnecessária e abusiva prisão do publicitário João Santana, agora rebatizado de “o marqueteiro do PT”,  já teve o efeito de alterar a agenda política, tirando do noticiário o caso FHC-Miriam Dutra. Já serviu também para realimentar a ofensiva pró-impeachment e a estratégia da oposição de cassar o mandato de Dilma e Temer através da ação eleitoral que será julgada pelo TSE. Ponto para a Lava Jato e para as forças políticas a que ela serve, no fim e ao cabo.
 A prisão de Santana, a segunda de um publicitário durante os governos do PT, alimentou prognósticos de que estamos no fim de uma era no modo de fazer política. De fato, apesar dos resultados  econômicos e sociais da era Lula, o PT desceu aos infernos essencialmente porque,  chegando ao poder, adotou duas práticas que sempre sustentaram as elites no poder: o financiamento privado de campanhas, em conexão com as grandes empresas, e o uso do marketing político profissional, que se instalou em nosso sistema eleitoral logo depois da Constituinte, na campanha de 1989, vencida por Fernando Collor com grande ajuda do marketing. Venceu o “caçador de marajás”, titulo de uma capa alvissareira da revista... Veja.
As campanhas de Fernando Henrique, em 1994 e em 1998, também foram “pensadas” por marqueteiros experientes. A primeira faturou o Real, a segunda o medo do colapso do Real diante da crise internacional daquele momento. Lula, para ser candidato pela quarta vez em 2002, impôs algumas condições ao PT. Uma delas, a contratação de um publicitário de primeiro time, Duda Mendonça.
O financiamento privado existe desde o todo e sempre na política brasileira mas quando o PT mergulhou na experiência, pensando que a regra era permitido a todos, teve seus esquemas explodidos.
Quando dois vetores importantes do sistema político-eleitoral entram em colapso, balizas do próprio sistema democrático precisam ser revistas. O aviso é mesmo o de que chegou a hora de mudar as regras, de encerrar uma era para que venha outra.
Este é um diagnóstico até convincente, que encontra eco nos que se enojaram da política nos últimos anos. Parte deles foi às ruas em 2013 avisar que os políticos e partidos atuais não os representava. Mas será mesmo possível uma nova era sem dinheiro dos empresários e sem marqueteiro? Na eleição municipal deste ano veremos se o financiamento empresarial será mesmo banido ou se a prática do caixa dois é que vai disparar. Tendo a apostar na segunda hipótese, embora torça pela primeira.
E quanto ao marketing, a destruição moral de publicitários de sucesso, como já aconteceu com Duda e agora acontece com Santana, não será suficiente para tirá-lo de cena. No mundo inteiro o marketing e o processo eleitoral deram-se as mãos. Isso é da cultura ocidental, não vai mudar.
O que vai mudar é o ambiente, com o restabelecimento daquela paz que antes permitia a outros partidos fazer uso farto dos dois recursos sem ser incomodados. Quando o PT deixar o poder, não haverá nem mídia, nem procuradores, nem Polícia Federal interessados em descobrir como as campanhas dos vitoriosos foram financiadas, nem como foram pagos seus marqueteiros. Quando o PT deixar o poder, todos estes agentes da turbulência atual vão descansar. A mídia voltará a plantar abobrinhas, a Polícia Federal a perseguir traficantes e outros meliantes, os procuradores a defender os direitos difusos da sociedade.  Lula já será um leão sem dentes, talvez esteja até preso, e Dilma terá ido para o vale dos caídos, terminando ou não o mandato.  E esquecidos também serão os do andar de baixo que galgaram alguns degraus nos governo do PT, que para se manter neles, aderiu ao que só era permitido aos outros.
Assim são as coisas. O que se busca é encerrar um ciclo, o ciclo petista, não uma era e seus costumes políticos. Quem viver verá.

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