Um fenômeno identificado no meio rural, em décadas passadas, volta a
chamar a atenção: as pessoas estão deixando o campo para morar nas
cidades. No entanto, desta vez, os motivos são bem diferentes dos
identificados naquele tempo, quando homens e mulheres fugiam da fome e
da sede. Um conjunto de políticas importantes acessadas pelos
trabalhadores e trabalhadoras, a exemplo da aposentadoria, moradia,
cisternas, Pronaf, Garantia Safra, fez com que a migração das famílias
praticamente acabasse. Porém, ultimamente, com o aumento da violência no
meio rural, muita gente passou a abandonar suas terras e casas em busca
de uma suposta segurança nos espaços urbanos, ou vilas rurais,
provocando uma retomada do êxodo.
O crescente número de roubos e assaltos no campo tem provocado tensão
e medo nos trabalhadores e trabalhadoras, em particular nos aposentados
rurais, que são as maiores vítimas. Eles representam, hoje, uma fonte
de recursos extremamente importante, sendo os responsáveis, em grande
parte dos municípios, por uma receita maior que o Fundo de Participação
dos Municípios (FPM).
Dados da Previdência Social apontam que Pernambuco movimenta, somente
de benefícios rurais, uma média de R$ 405 milhões, mensalmente. Isso
tem um impacto enorme na economia dos municípios e do estado. Sem esses
recursos, mercadinhos e lojas não conseguiriam se manter em
funcionamento.
Porém o que chama a atenção é a migração das pessoas nessa fase da
vida, sem que o Estado faça nada para reverter essa situação, mesmo
sabendo do impacto social que isso tem causado. Esses idosos têm toda
uma história no campo, onde construíram suas famílias e relações de
amizade. Com as atuais mudanças, é gerado outro modo de vida para esses
homens e mulheres, que sofrem com essa nova realidade e, muitas vezes,
não têm forças para reagir.
É fundamental que o Estado chegue aos locais onde essas pessoas
vivem. É preciso que se criem mecanismos de segurança pública para
garantir a integridade física das famílias que moram e trabalham no
campo, a exemplo de patrulhas rurais. O interior de Pernambuco possui
mais de 270 mil estabelecimentos rurais, com milhares de pessoas
produzindo alimentos, e tantos outros milhares aposentados, que
contribuíram e ainda contribuem para o desenvolvimento do estado.
A ausência de policiamento do meio rural é algo gritante. É preciso
criar uma diretoria na estrutura do Estado voltada para esse espaço. Não
podemos conviver com essa diferença no acesso às políticas por quem
mora na cidade e quem mora no campo. Infelizmente, são nesses momentos
que a gente sente muito mais a falta que faz ter um deputado na
Assembleia que defenda e lute por um campo com gente feliz.
*Presidente da Fetape
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