sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Aliança de alto risco



Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
A oposição protocolou nesta quarta um novo pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O documento é uma versão recauchutada do anterior, apresentado no início de setembro.
"Estamos fazendo recorta e cola", resumiu um dos signatários, o advogado Miguel Reale Junior. Ele foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso. É filiado ao PSDB, partido que perdeu as últimas quatro eleições presidenciais.
O texto também recebeu o jamegão do advogado Hélio Bicudo, um ex-petista que se dedica há pelo menos dez anos a combater o PT. Em 2010, ele afirmou que a eleição de José Serra era "a maneira de se salvar a democracia no Brasil". O tucano foi derrotado nas urnas. Felizmente, o regime político do país não mudou.
A petição de Reale Junior e Bicudo tem a estridência dos antigos tribunos. Abusa das maiúsculas, em afirmações como a de que o ex-presidente Lula "NUNCA SAIU DO PODER". Também exagera nos pontos de exclamação. Reúne nada menos que 28, salpicados em expressões como "Um acinte!"e "O caso é grave!".
O documento cita 16 vezes a palavra corrupção. Apesar disso, os líderes da oposição aceitaram entregá-lo ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusado de embolsar dinheiro desviado da Petrobras.
Depois do ato, o líder do PSDB, Carlos Sampaio, disse que o peemedebista ainda tem condições de permanecer no cargo. "Enquanto o presidente dessa Casa não renunciar, ele tem a legitimidade e a prerrogativa de tomar as decisões", declarou.
Politicamente, o pedido "recorta e cola" foi uma ajuda e tanto para Cunha. Ele ganhou um instrumento para continuar na cadeira, intimidando governo e oposição.
Para os tucanos, a aliança com o correntista suíço é uma estratégia de alto risco. Nos últimos anos, o PSDB pediu votos pregando a ética na política. Ao abraçar Cunha, pode acabar sem impeachment e sem discurso para as próximas eleições.

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