quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Bloco do eu sozinho



Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
Em meio ao debate da reforma política, há quem sonhe em ressuscitar uma ideia enterrada pela Constituição de 1946: o lançamento de candidaturas avulsas. A proposta foi reapresentada pelo senador José Antônio Reguffe (PDT-DF). Ele quer permitir que candidatos disputem cargos públicos sem estar filiados a um partido.
O projeto pega carona na insatisfação geral com o establishment político. Segundo o Datafolha, 71% dos brasileiros não têm um partido de preferência. É o maior percentual desde o início da pesquisa, em 1989.
"Grande parcela da população brasileira hoje não acredita em partido político nenhum", discursou Reguffe na tribuna. No texto, ele escreveu que "uma reforma política séria passa pelo respeito e valorização do eleitor e das pessoas de bem desse país, e não pelo fortalecimento de máquinas partidárias".
O conceito de pessoa de bem é tão elástico quanto o sistema partidário atual. Em uma campanha, pode ser reivindicado por uma freira ou por um empreiteiro disposto a bancar a própria eleição para facilitar seus negócios com o governo.
A bandeira das candidaturas avulsas já foi defendida por Marina Silva e Joaquim Barbosa. Ambos devem parte de sua popularidade à associação do carisma pessoal a um discurso contra "tudo o que está aí".
Marina disputou duas eleições presidenciais por siglas provisórias. Deixou o PV nove meses depois da primeira e deve sair do PSB seis meses após a segunda. Na prática, foi candidata de si mesma, o que contribuiu para as derrotas ­--especialmente a de 2014, quando lhe faltou tropa para reagir à artilharia petista.



A falta de suporte partidário também pode ser fatal para governantes, como mostram as quedas de Jânio Quadros e Fernando Collor. Os partidos formam as bases da democracia representativa. O Brasil precisa depurá-los e fortalecê-los, e não transformar a política em um grande bloco do eu sozinho.

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