Nem Sheherazade e nem Villa tinham a menor ideia sobre nada, de semáforos ao preço do metro quadrado das ciclovias.
Reprodução do artigo de Paulo Nogueira, extraído do Diário do Centro do Mundo:
Só ouviria a Jovem Pan sob a mira de um revólver. Não seria a presença de Haddad na rádio que me levaria a sintonizá-la.
Não dou a minha audiência às mídias que entendo fazerem mal ao Brasil. Aproveito melhor meu tempo.
Acho quase patético que críticos da Globo, por exemplo, não saiam da emissora. Você frequentemente encontra nas redes sociais alguém que ataca o JN, e depois o jornal da noite, e depois a Globonews – e entre tudo isso a CBN.
Você contribui com o inimigo.
Mas razões jornalísticas me fizeram ouvir a gravação da entrevista com Haddad. A repercussão foi grande.
De resto, minha amiga Priscila Sérvulo me mandou o link do programa, com uma recomendação para que visse e comentasse.
Pensei comigo: vou experimentar.
Acabei vendo a entrevista toda.
Duas coisas opostas me chamaram a atenção: o preparo calmo e sereno de Haddad e o despreparo bufão dos entrevistadores Villa e Sheherazade.
De uma forma geral, foi uma coisa parecida com o Roda Viva em que Piketty passeou diante de uma bancada hostil e inepta comandada pelo economista André Lara Resende.
As más intenções da Jovem Pan apareceram antes mesmo da entrevista.
Sherezade disse que demorara duas horas para ir de casa para o trabalho. Culpa de Haddad, naturalmente.
Logo aí Haddad também mostrou suas armas. Ele quis saber de onde ela vinha, e se era assim sempre.
Pressionada, ela admitiu que em geral leva uma hora. E disse a Haddad que mora no Barueri. Fora da cidade, portanto. Se morasse em São Paulo, lembrou Haddad, ela perderia menos tempo no trânsito.
Villa foi logo abatido também.
Ele falou na taxa de reprovação de Haddad no meio do mandato como se fosse um fato novo na história dos prefeitos de São Paulo.
Haddad disse a ele que, como historiador, ele deveria consultar o passado. Marta e Kassab passaram por situações semelhantes, e logo depois de aumentar a tarifa dos ônibus, como ele próprio.
Haddad mostrou a relação entre aumento de tarifa e popularidade do prefeito.
Pego de surpresa, tudo que Villa conseguiu dizer é que iria pesquisar o assunto.
Isso quer dizer o seguinte: ele não fez a lição de casa.
Segundo algumas versões, Patrícia Poeta foi afastada do JN por supostamente não ter se preparado convenientemente para a entrevista com Marina Silva.
Um editor rigoroso afastaria Villa, mas imagino que isso não vá acontecer por uma razão: espera-se dele, apenas, que fale mal continuamente do PT, e não que se prepare para entrevistas. E ele entrega – em sua maneira caricatural, confusa e frequentemente imbecil — o que esperam dele.
Numa de suas grandes frases, Euclides da Cunha, ao tratar de Floriano Peixoto, disse que ele chegara à presidência não porque se elevara, mas porque se operara uma depressão em torno dele.
Haddad se destacou, em parte, pela depressão a seu redor na entrevista na Jovem Pan.
Imagine alguém que, em pleno 2015, consegue atacar ciclovias numa metrópole como São Paulo.
É Villa.
Suas observações, se fossem feitas em cidades como Londres ou Paris, o levariam ao ridículo e ao ostracismo imediatamente.
Mas no Brasil isso lhe dá microfones como o da Jovem Pan.
Haddad contou suas conversas com prefeitos de fora do Brasil a respeito das ciclovias.
Disse que é consenso que elas vem antes dos ciclistas. Sem as ciclovias, as pessoas não vão se arriscar em ruas perigosas.
Nem Sheherazade e nem Villa tinham a menor ideia sobre o assunto. Sobre nada, aliás – de semáforos quebrados ao preço do metro quadrado de uma ciclovia.
Ali estava, diante de Haddad, a ignorância enciclopédica personificada em dois entrevistadores sem a menor condição jornalística de sabatinar alguém.
Villa, a certa altura, jogou o Petrolão para cima de Haddad. Chegou a citar Gilmar Mendes, como se a opinião do meritíssimo valesse alguma coisa.
Haddad desarmou-o imediatamente. Afirmou que, como todo mundo, quer a punição de quem quer que tenha desviado dinheiro público na Petrobras.
E devolveu a Villa: “Você não quer que os corruptos do Trensalão sejam presos? Você não quer que o conselheiro do TCU de São Paulo indicado pelo Covas sofra consequências pela conta na Suíça com dinheiro da corrupção?”
Villas balbuciou apenas, a voz mortiça: “Sim.”
Maluf também foi posto na conversa. Haddad disse que faz aliança não com pessoas, mas com partidos, e à luz do dia. Lembrou que Serra foi buscar o apoio do mesmo Maluf na calada da noite. “E você não disse nada”, completou.
Fora do campo objetivo, Haddad também enquadrou Villa com bom humor.
Ao responder a uma colocação, ele foi interrompido abruptamente. E então disse: “Puxa, Villa, vocês me atacam todos os dias. Deixa hoje pelo menos eu me defender.”
Haddad fez o que se espera de um político que sabe o que quer.
Villa e Sheherazade fizeram aquilo que é inevitável em entrevistadores que não sabem entrevistar.
Deu no que deu: nocaute
Não dou a minha audiência às mídias que entendo fazerem mal ao Brasil. Aproveito melhor meu tempo.
Acho quase patético que críticos da Globo, por exemplo, não saiam da emissora. Você frequentemente encontra nas redes sociais alguém que ataca o JN, e depois o jornal da noite, e depois a Globonews – e entre tudo isso a CBN.
Você contribui com o inimigo.
Mas razões jornalísticas me fizeram ouvir a gravação da entrevista com Haddad. A repercussão foi grande.
De resto, minha amiga Priscila Sérvulo me mandou o link do programa, com uma recomendação para que visse e comentasse.
Pensei comigo: vou experimentar.
Acabei vendo a entrevista toda.
Duas coisas opostas me chamaram a atenção: o preparo calmo e sereno de Haddad e o despreparo bufão dos entrevistadores Villa e Sheherazade.
De uma forma geral, foi uma coisa parecida com o Roda Viva em que Piketty passeou diante de uma bancada hostil e inepta comandada pelo economista André Lara Resende.
As más intenções da Jovem Pan apareceram antes mesmo da entrevista.
Sherezade disse que demorara duas horas para ir de casa para o trabalho. Culpa de Haddad, naturalmente.
Logo aí Haddad também mostrou suas armas. Ele quis saber de onde ela vinha, e se era assim sempre.
Pressionada, ela admitiu que em geral leva uma hora. E disse a Haddad que mora no Barueri. Fora da cidade, portanto. Se morasse em São Paulo, lembrou Haddad, ela perderia menos tempo no trânsito.
Villa foi logo abatido também.
Ele falou na taxa de reprovação de Haddad no meio do mandato como se fosse um fato novo na história dos prefeitos de São Paulo.
Haddad disse a ele que, como historiador, ele deveria consultar o passado. Marta e Kassab passaram por situações semelhantes, e logo depois de aumentar a tarifa dos ônibus, como ele próprio.
Haddad mostrou a relação entre aumento de tarifa e popularidade do prefeito.
Pego de surpresa, tudo que Villa conseguiu dizer é que iria pesquisar o assunto.
Isso quer dizer o seguinte: ele não fez a lição de casa.
Segundo algumas versões, Patrícia Poeta foi afastada do JN por supostamente não ter se preparado convenientemente para a entrevista com Marina Silva.
Um editor rigoroso afastaria Villa, mas imagino que isso não vá acontecer por uma razão: espera-se dele, apenas, que fale mal continuamente do PT, e não que se prepare para entrevistas. E ele entrega – em sua maneira caricatural, confusa e frequentemente imbecil — o que esperam dele.
Numa de suas grandes frases, Euclides da Cunha, ao tratar de Floriano Peixoto, disse que ele chegara à presidência não porque se elevara, mas porque se operara uma depressão em torno dele.
Haddad se destacou, em parte, pela depressão a seu redor na entrevista na Jovem Pan.
Imagine alguém que, em pleno 2015, consegue atacar ciclovias numa metrópole como São Paulo.
É Villa.
Suas observações, se fossem feitas em cidades como Londres ou Paris, o levariam ao ridículo e ao ostracismo imediatamente.
Mas no Brasil isso lhe dá microfones como o da Jovem Pan.
Haddad contou suas conversas com prefeitos de fora do Brasil a respeito das ciclovias.
Disse que é consenso que elas vem antes dos ciclistas. Sem as ciclovias, as pessoas não vão se arriscar em ruas perigosas.
Nem Sheherazade e nem Villa tinham a menor ideia sobre o assunto. Sobre nada, aliás – de semáforos quebrados ao preço do metro quadrado de uma ciclovia.
Ali estava, diante de Haddad, a ignorância enciclopédica personificada em dois entrevistadores sem a menor condição jornalística de sabatinar alguém.
Villa, a certa altura, jogou o Petrolão para cima de Haddad. Chegou a citar Gilmar Mendes, como se a opinião do meritíssimo valesse alguma coisa.
Haddad desarmou-o imediatamente. Afirmou que, como todo mundo, quer a punição de quem quer que tenha desviado dinheiro público na Petrobras.
E devolveu a Villa: “Você não quer que os corruptos do Trensalão sejam presos? Você não quer que o conselheiro do TCU de São Paulo indicado pelo Covas sofra consequências pela conta na Suíça com dinheiro da corrupção?”
Villas balbuciou apenas, a voz mortiça: “Sim.”
Maluf também foi posto na conversa. Haddad disse que faz aliança não com pessoas, mas com partidos, e à luz do dia. Lembrou que Serra foi buscar o apoio do mesmo Maluf na calada da noite. “E você não disse nada”, completou.
Fora do campo objetivo, Haddad também enquadrou Villa com bom humor.
Ao responder a uma colocação, ele foi interrompido abruptamente. E então disse: “Puxa, Villa, vocês me atacam todos os dias. Deixa hoje pelo menos eu me defender.”
Haddad fez o que se espera de um político que sabe o que quer.
Villa e Sheherazade fizeram aquilo que é inevitável em entrevistadores que não sabem entrevistar.
Deu no que deu: nocaute
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